quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Nunca sem mais

Nunca fomos ao cinema.
Não conheço seu cão.
Você nunca me viu chorar.
Nunca vi você dirigir.
Me lembro bem da primeira vez em que não viajamos.
Não fomos jantar.
Não conheço seus amigos.
Você nunca me viu irada.
Nunca vi sua letra.
Me lembro da primeira vez em que não fomos à praia.
Não fomos ao show.
Não conheço seus discos.
Você nunca me viu triste.
Nunca vi você trabalhar.
Me lembro da primeira vez em que não passeamos.
Não fomos à festa.
Não conheço sua família.
Você nunca me viu cozinhar.
Nunca vi você ler.
Me lembro da primeira vez em que não nos vimos.
Não fomos dançar.
Não conheço seu passado.
Você nunca me viu refletir.
Nunca vi você relaxar.
Me lembro da primeira vez em que não falamos de futuro.
Nunca fomos um.
Não conheço seu presente.
Você nunca me viu ao seu lado.
Nunva vi você querer.
Me lembro da primeira vez em que não fomos nada.
Só não me lembro de ter querido ser dois.
Um em cada canto.
Você sem você.
Eu sem você.
Nós sem uma primeira vez.




* Não sei quem é o casal, mas adorei a primeira vez que vi.

domingo, 27 de setembro de 2009

Recordar é viver?

Escrevi isso em setembro de 2006. E tal qual a moda que vive volando, isso se aplica bem ao momento.

Feitos um para o outro
Tarde de Harry e Sally.
E toda vez choro horrores.
Choro pensando nas oportunidades perdidas, nos radicalismos sem sustentação racional. Choro porque todo mundo merece um amor impossível só pra sentir que tá vivo. Choro de inveja de Sally. Choro pq , no fundo, queria um Harry - ainda que chato e a cara do Billy Cristal - correndo atrás de mim até o Empire State. E tem essa coisa, né? De todo mundo se beijar à meia noite ... Deve ser uma alusão aos contos de fada, um boa noite cinderela sem qq efeito lisérgico. O fato é que a gente vai vendo como as relações são construidas ao longo da vida. Antes de Harry e Sally estava dando uma olhada em "Separações", do Domingos de Oliveira. Os casais de filmes pseudo-intelectuais nacionais são sempre muito descolados, livres, independentes. E moram no Leblon. Têm grana pra passar uma temporada em Paris, quando voltam estão cheios de projetos culturais e milhões de vinhos na bagagem. E são modernos, sentam-se juntos dos seus ex-pares, como uma grande família italiana. Mas uma coisa ficou na minha cabeça ecoando.
Saco, quando essa coisas ecoam é foda porque eu começo a pensar na vida com profundidade. E, sinceramente, tô evitando o máximo esse momento. Mas, enfim, pelo menos uma vez por mês amarro esse bode preto e penso nas grandes questões do mundo e da sobrevivência. Lá pelas tantas o cara diz: "É preciso ser amigo de quem vc amou muito um dia. Porque senão o mundo fica curel demais!".

Fiquei absorta, introjectando essa coisa e me pus a pensar nos homens que eu amei. Amei muito, todos eles. Embora, alguns deles nem acreditem realmente nisso. E descobri que não amei apenas aqueles de relações pré-estabelecidas. Amei cada ser do sexo oposto que passou fugazmente pela minha breve vida. de maneira louca, de maneira sofrida, de maneira divertida. Eu amei. E não foi pouco. E tenho pensado nisso. Porque amor transborda feito leite em peito de mãe iniciante. E quando vc não tem onde colocá-lo ou como eternizá-lo, propagá-lo, é muito ruim. Fica essa coisa entre o estômago e o seio esquerdo. Um nó violento na garganta e vc quer dizer, quer mostrar, quer exibir seu amor. Porque amor é um sentimento tão raro. Todo mundo quer. Ninguém sabe definir direito. Alguém já jurou saber o gosto, outro já apalpou. E amor é tão fácil sentir. Ter é mais difícil, mas não é regra. O amor tá meio aprisionado, eu acho. Falta lucidez pra amar. Falta coragem. Falta tempo. Conheço até quem pense faltar dinheiro pro amor.

Detesto essas reflexões. Porque vou ficando densa e pulo pra etapa dois, quando quero saber o propósito de tudo. Seja do fio de cabelo caído no piso do banheiro, seja entender esse movimento cíclico que é a vida e porque ela não costuma sorrir com simpatia pra geral. E vejo essas bobagens hollywoodianas querendo vender o amor eterno e alcançável, e acredito piamente que ele possa mesmo existir.Sim, ele existe. Quantos de nós já não fez a besteira de se apaixonar perdidamente ao longo do dia? De meter pés pelas mãos? Pegar o celular na madrugada e acordar numa puta ressaca moral no outro dia só por ter discado praquele amor de ontem? São as horas em que o neurônio - a essa altura o único que existe -, é interligado à boca por apenas um microfio transparente e fraco. Então a mente não registra regras, e lá vai o tal neurônio detonando todo o seu discurso, suas idéias pré-fabricadas.
Deveria haver um meio termo. Uma forma de equilíbrio. Harry e Sally me fazem pensar nisso toda vez que os vejo na tela. Pq é um casal tão improvável que vc passa a achar que ganhar na megasena é um simples exercício de pragmatismo. Os caras levam 12 anos pra se acertar.12!!!Entre idas e vindas.Destino? Paciência? Falta de Sorte? Será mesmo que existe em algum canto do planeta uma pessoa destinada a nós? Será que já não passou por aqui feito cometa e simplesmente se foi? Tá vendo, tô fazendo de novo.
Merda! Lá vou eu filosofar tal qual leitor de orelha de livro. Saco! É esse tal de amor. Reprimido aqui dentro. Louco pra sair por aí em noites de tempestade. O chato dessa história é saber que se tem tanto a oferecer pra tão pouca gente que merece.

Certamente, existe alguém por aí merecedor desse transbordamento. Dessa cheia de amor que acontece em algumas estações do ano!
É a primavera chegando!
E bem que ela podia trazer um primo tb...

"O Homem Lúcido sabe que a vida é uma carga tamanha de acontecimentos e emoções que ele nunca se entusiasma com ela. Assim como ele nunca tem memórias. O Homem Lúcido sabe que o viver e o morrer são o mesmo em matéria de valor posto que a vida contém tantos sofrimentos que a sua cessação não pode ser considerada um Mal. O Homem Lúcido sabe que ele é o equilibrista na corda bamba da existência. Ele sabe que por opção ou por acidente é possível cair no abismo a qualquer momento interrompendo a sessão do circo. Pode tembém o Homem Lúcido optar pela vida. Aí então ...Ele esgotará todas as suas possibilidadades. Ele passeará pelo seu campo aberto pelas suas vielas floridas. Ele saberá ver a beleza em tudo! Ele terá amantes, amigos, ideais, urdirá planos e os realizará. Resistirá aos infortúnios e até mesmo às doenças. E se atingido por um desses emissários saberá suportá-lo com coragem e com mansidão. E morrerá, o Homem Lúcido, de causas naturais e em idade avançada cercado pelos seus filhos e pelos seus netos que seguirão a sua magnífica aventura. Pairará então sobre a memória do Homem Lúcido uma aura de bondade. Dir-se a:-Aquele amou muito. Aquele fez muito bem as pessoas!A Justa Lei Máxima da Natureza obriga que a quantidade de acontecimentos maus na vida de um homem se iguale sempre à quantidade de acontecimentos favoráveis. O Homem Lúcido, porém, esse que optou pela vida com o consentimento dos deuses tem o poder magno de alterar essa lei Na sua vida, os acontecimentos favoráveis serão sempre maioria...Porque essa é uma cortesia que a Natureza faz com Os Homens Lúcidos"

*O texto é uma livre tradução, parte de um Tratado sobre a lucidez, que teria sido escrito no séc. VI a.C, na Caldéia – parte sul e mais fértil da Mesopotamia, entre os rios Eufrates e Tigre

domingo, 20 de setembro de 2009

Hiato

Nossa, quanta poeira por aqui...
Mas ainda não á na hora de abrir a casa novamente.
No máximo, uma espanadinha.
Os dias estão breves demais pra verbalizar.
Ou ortografar.
Então, vamos assim.
Dou uma espiadela.
E fecho a janela até o sol se pôr novamente.