sábado, 27 de dezembro de 2008

Happy end

Caro 2008,

Queria agradecer por não ter me enlouquecido ao longo de seus 12 meses. É claro que, em algumas semanas, me vi num emaranhado de tentativas de auto sabotagem de planos, sonhos e afirmativas. Não gostei de fevereiro. Perdi um dos maiores amores da minha vida, uma companheira, uma referência. Esteja onde ela estiver, espero que olhe por mim e continue guiando meus passos desconexos. Mas conheci um novo país, levei com afinco o ato libertador de escrever, li mais, saí menos. Finalmente, encontrei certo equilíbrio entre as minhas vontades e as meias verdades em que acreditava. Foram novos amigos, novos amores. Aliás, não sabia mais o que era sentir àquele friozinho na espinha. Revi gene querida, limei o que não prestava, me apaixonei, se apaixonaram por mim. Não amei. Mas vc deixou esse sentimento bem mais próximo. Quem sabe em 2009? Aprendi muito, domei meu gênio, mas ainda não me livrei da TPM, aliás cada vez mais delirante. Supri algumas carências, mas passei a fumar mais. Tomei poucos porres em comparação aos anos anteriores, comprei menos sapatos... Em compensação torrei o que tinha (e muitas vzs o que não tinha) em supérfluos que me fizeram feliz por cinco minutos. Envelheci, engordei, fiquei mais loura, mais independente e mais cética. Queria ter me exercitado, efeito dieta, ido a um templo budista, mais vezes ao samba, ao rock. Mas à praia fui sempre que pude. Passei a usar mais filtro solar, ainda não o suficiente, e me preocupam duas ou três pintas que apareceram. Fiz cursos que eu queria, viajei, aprendi que o sofá de casa é um porto seguro. Ás vz só pra mim. Mas também o dividi. Com caras diferentes. Com caras que não quero conhecer. Pela primeira vez em muito tempo me permiti acordar com alguém e fui mulherzinha. Chorei quando necessário e sorri muito mais. No saldo, caríssimo ano, foram 365 dias positivos. Tive sorte. E creio tê-la quando terminar o próximo. Antes, porém, farei uma cartinha de apresentação para 2009. Não quero cometer os mesmos erros, desejo do fundo do coração conseguir me organizar melhor, acordar cedo para caminhar todos os dias olhando horizonte, me alimentar melhor, largar o cigarro, a coca zero, e o pão. No pacote, vou pintar as paredes do quarto, fazer um trabalho voluntário e talvez conhecer a cabalah. Como foi em 2008, desejo assistir a shows incríveis, ouvir música boa, sair pra dançar mais. Que os astros permitam que o dólar se estabilize abaixo dos R$ 2 para que eu possa ir a Paris. Quero ter mais tempo pros meus sobrinhos e minha mãe e curtir os 60 anos do meu pai. Quero um amor seguro, nem precisa ser mt maduro. Nisso não pretendo mudar. Mas que seja divertido, inteligente e tenha um bumbum maravilhoso. Se só tiver inteligência já tá bom mesmo assim. Quero escrever meu primeiro livro, rodar meu primeiro documentário e guardar algum dinheiro. No fim, a gente vê o que aconteceu e faz novas listas até o infinito. No mais, é cruzar os dedos e pensar que o tempo recomeça pra gente passar alguns rascunhos a limpo.

 Israel Kamakawiwo'ole - Somewhere Over The Rainbow & What A Wonderful World

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Superlativo relativo

Já tive aqui versos, músicas e frases que me definiram muito bem. Foram substituídos ao longo de semanas, dias, horas. Chico já me descreveu inúmeras vezes. Vinicius doou parte de uma estrofe. Drummond me conferiu leveza. Cora me mostrou como menina. Já tive fases de Moska, Marisa. Beatles embalaram uma manhã. A tarde, já os havia trocado por um bom samba de Noel. Em algumas,uma tristeza velada. Em outras, alegria estampada.Hoje, porém, decidi eu mesma falar por mim, Letra e harmonia. Dizem que sou boa nisso. E sou. Sem falsa modéstia.Apesar de não saber onde ponho as mãos ao receber elogios, tenho de controlar a vaidade típica de loucos que se acham de alguma forma geniais. Já quis pintar o sete nessa vida. Acabei fazendo uma bela aquarela. Adoro pares. Tenho problema com ímpares. Nasci num ano par. Num dia sete. Às sete da noite. Desconfio que numa outra vida - sim, eu acredito - morri muito cedo. E de tanto encher o saco de um anjo estagiário, ele me botou pra correr num breve espaço de tempo. Talvez por isso, sinta uma enorme vontade de viver cada minuto como se fosse o último. Mas nunca me chame para um vôo livre. Meu gosto por aventuras extremas é pífio. Gosto do que é palpável. Creio pra ver. Me comporto como libertina ocidental, mas, no fundo, sou uma careta de burca.Já fiz um monte de besteiras. Menos até do que deveria. Sou durona. Choro, no entanto, vendo cena de novela. Me arrepio com frequência. No olhar do outro, ao toque, à energia. Adoro estar rodeada. Sou agente polarizador. Minhas turmas mudam com frequência. Sou nômade em constante busca, Mas não volúvel. Só que eu preciso ficar só e encontrar outros pares pra me fazer rir. Não tenho meias palavras. Vão ouvir de mim muitas verdades. Mas embaladas em voz de veludo, paradas em sonoras gargalhadas. Eu tiro onda de sobrevivente. E de fato sou. Já estive no finalzinho da prancha, mas aquele mesmo anjo foi efetivado e decidiu me cobrar a chance de viver mais um pouco. Já fiz arco-íris na mangueira. rinquei de pique-bandeira. Quis ser moleque pra subir em árvore. Nunca quis casa. Casei. E gostei. Já perdi um amor para sempre, e encontrei outro na padaria. Enrolei a saia pra seduzir. Cabulei a matemática. Pintei minha cara com a desculpa de beber cerveja. Abracei uma causa. Fui hippie. Meus conselhos são ótimos. Mas para os outros. Já fui arrogante, prepotente e falsa. Levei porrada. Chorei agarrada a um travesseiro, e jurei nunca mais olhar para vários alguéns.Gosto da festa, de música bem alta. Falo palavrão pra caralho. Compro cremes que nunca vou usar. Sopas que nunca vou tomar. Roupas que jamais vou vestir. Meu coração é terra em que se pisa com cuidado. Às vezes, árido. Às vezes pantanosa. Mas quem consegue chegar nele de leve e com uma bela piada pra contar, entra e não sai mais.Minha cabeça gira feito peão. Sou envolvente. Me dá cinco minutos e te levo no bico. Em dez, vc já gostou de mim. Em 30, é meu. Mas bastam dez segundos pra me detestar. Eu faço graça. Sou carinhosa. Mas não suporto frescura. Quem se vitimiza perde a minha admiração. Não curto lutos muito longos. Morro. Passo por cima e volto sem olhar pra trás. Do meu passado, guardo francas experiências. Mas não as quero de volta. Minhas gavetas são fundas e trancadas. As chaves engoli. Soltei pipa quando quis. Trepei quando quis. Mas também quando não quis saber do mundo, virei as costas e dormi. Fiz primeira comunhão, li mão na cartomante, tomo banho de sal grosso.Pretendo viver solta pelo mundo. Não tive filhos. Mas se os tiver, serei uma mãe severa. Regra é bom e eu gosto. Nem que seja para quebrá-la.Sou um território de contrastes. Toda pessoa o é. Mas eu sou bem mais divertida...

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Contagem regressiva

Ele diz: odeio a obrigação de ser feliz em apenas uma noite.
O lance era sobre o revéillon.


Vc acredita em Ano-Novo????
Nas promessas de dias azuis???
No amor que vc anseia a cada hora de seus 365 dias?

Minha esperança é bissexta, meu caro.
Bienal.
Dual.

Sonhas...

Realizo em pequenas doses de querer mais,
de poder mais.
De mais e mais

E o que queres tanto assim que não pode fazer agora, aqui?

Preciso de uma nova página em branco.
De um novo giz.
Vou jogar fora a borracha gasta.

Isso é figurativo demais.

Vou pular as sete ondas do ontem,
Anteontem.
E antes de anteontem.
Depois vou me banhar em sal e me secar com o futuro

Devia era ter os pés no chão e ver que tudo isso não passa de um inconsciente coletivo.

Não posso.
tenho os pés no lustre.
Aqui do alto sou consciente
Inividual.
Eu.

E vai fazer festa?

Vou dançar.
Sozinha.
Com todas as gargalhadas reservadas a mim mesma.
Vou comer uva,
guardar as sementes na carteira,
subir na cadeira,
sorver a lentilha.

Quanta besteira

E vou repetir todos aqueles mantras difíceis.
Não conseguirei proferir nenhum com maestria
Mas aí já é dia
E ele vai raiar
Incrivelmente ensolarado
Vai brilhar só pra me acordar
Pois já é hora de

RECOMEÇAR

 Marisa Montes e Julieta Venegas - Ilusion

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Há dança. A dança.



Brilha intenso. Um desejo.
Uma dúvida. Um coração.
Pulsa. Sem bater.
A longa distância.
Em saltos com barreira.
Obstáculos.
Tolos. Vis.
Sem sentido. Só há dança.
Só a dança.
Mudança?
Certamente esperança.
Tempestades. Sem bonança.
Falsário de asas. Alado.
Ao lado. Deitado.
À direita. Na espreita.
Endireita essa nuvem.
Vai chover. De novo.
Cai em mim. Sem fim.
Enfim.
Em fim.

domingo, 23 de novembro de 2008

O mito romântico

Imaginemos uma vida em comum para Romeu e Julieta...

Julieta - , Romeu, bebeste de novo? Não há um dia em que não vais à taberna. Quanto azar o meu.

Romeu - Ó criatura, não percebes que odeio discutir quando estou de ressaca?

Julieta - Tu bem sabes, ó Romeu, que há meses estou sufocada. Não aguento mais pensar e rimas e em palavras rebuscadas para justificar nossa convivência mal fadada. E tu vens cheirando a vinho barato, deixa esse monte de roupa jogada no chão, pões suas galochas em cima da mesa, e queres o controle remoto só para ti...

Romeu - Julieta, tu que já fostes minha amada, agora não passas de uma mulher grossa e mal-humorada. Sem falar que engordou, não se cuida como deveria. Pra não dizer que me negas sexo e estou subindo pelos alpendres...

Julieta - E chega de rima, caralho! Não aguento mais ter de pensar em tempos verbais e em palavras que já sumiram do dicionário.

Romeu - Se não estás feliz por que não desces do castelo e se vai?

Julieta -Epaaaaaa! Seu Montequiozinho de merda. Tá esquecendo que quem financiou esse castelinho aqui fora meu pai???? E ele tinha razão, Ó Deus. Não devia ter me envolvido com vós. Mas, veio com aquele papinho de lábios de peregrino, e eu caí... Aiiiiiii, como sou burra viu. A gente não devia ter mudado o curso de uma história que deveria existir por gazilhões de anos. Todo mundo ia acreditar que seríamos felizes para sempre. Quem mandou enganar o escritor e não tomar a porra do veneno?

Romeu - A idéia e enganar William foste tua, lembra-se? Tal qual a mulher engana a Deus e o diabo...

Julieta - Ah Romeu, sejas homem de uma vez. Wiliam fez coisas melhores depois. Ninguém mais engolia aquele choro, o desepero ao me ver deitada e sacar o veneninho do bolso pra me acompanhar até a eternidade. Agora, tu não vais comigo até a esquina.

Romeu - O enganado fui eu, ó serpente! Na literatura não havia referência a sua TPM. Tu eras uma flor, uma pequena muito doce. Agora, virou esse sargento de corselet.

Julieta - Romeu, vc era um EMO!!! O mundo é outro agora. Não se chora mais por amor, entendes? Chora-se pela queda das bolsas, os EUA elegeu um negro para presidente. Em que tempo vives?

Romeu - Mas eu não quero mudar. Quero continuar fazendo meus versos, e morrendo de amor no fim, como deveria ser. Mulher, tens mania demais! Queres tudo. Vc me amava como eu era. Bastou o matrimônio para que queiras me modificar. É sempre assim, os homens casam, querendo que suas mulheres jamais mudem, e as mulheres se casam crendo serem espertas o bastante para mudá-los.

Julieta - Está vendo? Você deve estar lendo Martha Medeiros aos domingos.

Romeu - E sou crucificado pela minha sensibilidade? Que mal há em querer continuar do mesmo jeito que nasci? Eu gosto de beber nas tabernas, gosto de ver o Vasco na TV, choro no Arquivo Confidencial do Faustão, aprecio as mesas redondas, detesto lavar louça, não sou bom em DRs como você. Custa deixar-me em paz no sofá?

Julieta - Muito me custa, Romeu. Quero o divórcio.

Romeu - Estás usando aquela erva de novo? Não temos divórcio neste reino, insana criatura. Pegue seu escorpião de estimação e cala-te. Quem sabe desta vez para todo o sempre...

Julieta - Vou para casa de minha mãe. Tu tens duas semanas para arrumar um lugar. Vou vender este castelo e com a metade vou correr mundo, ser livre, Romeu. Não quero mais ficar presa a um mito romântico e neste caso semântico.

Romeu - Então vá, enquanto a minha prece eu executo. Mas não aporrinhe-me mais. Com minha metade vou encher a adega de vinho, comprar uma TV de plasma com tantas polegadas que a quilômetros saberão o que assisto, vou pegar umas putas e comê-las-ei a hora que quiser. E se mais alguma mulher atravessar meu caminho com lábios que tentam me absolver, preferirei ser condenado ao pecado até o fim dos meus dias.

Julieta - Pára de drama, ô palhaço. Me vou agora. Não me procure mais, esqueça meu nome e o endereço do meu jardim. Serei livre para viver o que eu quiser. Quanto a vc, morra!

Romeu - Já fizemos isso, lembra?

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

retrato falado

A mim me foi dada a tarefa. Então pra satisfazer a curiosidade alheia (leia-se homem do café), lá vai:

Versão: Alice ainda mora aqui 3.6 com airbags e direção hidraúlica
Nome: Alice no lustre
Idade: Cronológica? 243.
Local de nascimento: Wonderland
Peso: às vzs nos ombros
Altura: A de algum lustre por aí
Apelido de infância: Não tive infância
Qual sua melhor qualidade: Fantasiar
E seu maior defeito: Pensar demais
Qual a característica mais importante em um homem: me fazer rir
Qual a característica mais importante em uma mulher: rir de si mesma sob qq circunstância
Qual sua idéia de felicidade: Comer qq coisa sem engordar
E o que seria a maior das tragédias: cair do lusre e morrer
Quem você gostaria de ser se não fosse você mesmo: mas e se eu não for eu?
E onde gostaria de viver: no cinema
Qual sua cor favorita: uma aquarela pra poder misturar
E seu desenho animado: Não gosto de desenho
Quais são seus escritores preferidos: os irônicos
E seus cantores e/ou grupos musicais: sou volúvel
O que te faz feliz instantaneamente: dançar
Quais dons você gostaria de possuir: o teletransporte e ler pensamentos
Qual seu personagem de ficção favorito: Alice
Qual defeito é mais fácil de perdoar: a preguiça
Qual é o lema de sua vida: se joga
Qual a sua maior extravagância: champagne pra celebrar a vida
Qual a sua viagem preferida: a que ng pode ver ou tocar
Se pudesse salvar apenas um objeto de um incêndio, qual seria? minha carteira
Onde e quando foi mais feliz: dava um longa com pitadas de Almodóvar, Allen, Bertolucci e Trufault
Qual sua ocupação favorita: a ficção
Pensa em ter filhos? Não
Animal de estimação: não tenho habilidade com eles
Uma atividade fisíca: escrever
Um esporte: a ironia
Um prato que sabe fazer: feito
Uma comida que gosta: qq uma que possa conseguir telefonando
Uma invenção tecnológica sem a qual não vive: elevador
Gasta mais dinheiro com: táxi
Uma inabilidade: relaxar
O que não faria em nome da vaidade? interlace
Uma mania: observar as pessoas e achar que sei a história de cada uma
Uma saudade: dos meus avós
O primeiro beijo: essencial para os próximos

domingo, 9 de novembro de 2008

Azulei


Pulei.
No mar.
Desestressei.

Banhada em azul turquesa.

Azul de Iemanjá.

Azul Atlântico.

Azul pacífico.

Azul de Arraial.




quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Uma semana que durou duas

Estresse por causa do trânsito
Estresse por causa da gripe
Estresse por causa de grana ou a falta dela
Estresse por causa de rabalho
Esresse por causa de amigos, inimigos, ex e atuais frentes
Estresse por causa da mãe que não encontra depósito na conta
Estresse por causa do técnico do computador
Estresse com segurança que me barrou em evento
Estresse pq não consigo respirar direito

Vou ali me jogar da janela e já volto.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Sem depois

Nem quero pensar no depois.
Depois de amanhã. Depois de partir. Depois de ficar.
Porque algumas manhãs foram cinzas antes.
Antes de ontem. Antes de chegar. Antes de sair.
E antes de anteontem foi tão bom com quem veio depois.
E depois do que veio. E se foi. Assim tb tão bom.
Sem raciocinar. Sem racionalizar. Sem verbalizar.

sábado, 1 de novembro de 2008

Samba coação

Te vi na fotografia
Um 3x4 desfocado
Meu coração descompassado
Bateu com certa alegria
Me perguntei por que não?
Porque não é sempre desculpa
E o sim depende do assim dizer
Mas no devaneio momentâneo
Decidi te escrever
E descrever sobre meus planos
De querer te conhecer
Bisbilhotei seus gostos
E deu gosto de ver
Que assim como eu
Você sabe viver
Nas rodas de bambas
Na cadência dos sambas
Em boa companhia
Nos bancos do botequim
Ah, pobre de mim...
Que faço rima chinfrim
Pra demonstrar simpatia
Descobri muito em comum
De Chico a Cartola
Meu queridíssimo Paulinho da Viola
De todos, me surpreendi com um
"Ora, ele gosta de rock e
frequenta o tal Bukowski"
Mas é no samba a sua raiz
E, desculpa, se meti o nariz
Onde nem fui chamada
Mas achei que era roubada
Não tentar ser ao menos descarada
Pra dizer que você me agrada
Em ritmo de batucada
Enquanto havia tanto pra ver
Um pensamento me conduzia
E sem qualquer diplomacia
Pensava: te quero e vou ter!
* Não, não tive! Mas ficou o poeminha retrátil.

Noite das bruxas

A gata solta: Qual a boa de hj? Alguma festa pra ficar pelado?

Um tremendo Oi??????????? ecoa em meu pensamento.
Olho pra Bee amiga. E pelo meu olhar ele decifra meu segredo de esfinge, bebericamos mais um pouco e tal qual aquele tigre cor de rosa de desenho animado (caraca, como só percebi agora que aquela poha de tigre era gay?) saímos pela direita, beijonãomeadd.

Meu desânimo visível de encarar boate gay. Mas fui, pq sou corporaiva e ambos, eu e bee amiga, havíamos tomado um perdido daqueles de nossos, por assim dizer, pseudos.
Já na buatchy tomo um flagra do segurança.

- Vc não pode fumar aqui. Lá em cima tem área destinada a vcs.

Caralhos de plástico me fodam!

O lugar tem andaime com caras semi-nus, queijo pras bibas rebolarem sem camisa, dark room (pra quem não sabe é um quarto escuro onde rola um tribalismo), sauna, pode trepar, cheirar e eu não posso fumar um simples cigarrinho comprado na venda do Raimundo????

Ah, fiquei putaralhaça. Tomei mais uma dose de absolut e fui pra pista. Aloka. Era a única hetero do local inteiro. Showzinho sadomasô com o bofe encoleirado no vinil, gata de chifres em alusão ao "Rélouz when?". . Tava sem saco. Meio tonta fui pra tal "área de fumantes". Mais um oi?. Era do lado de fora da buatchy.

Va-lha-me minha Nossa Senhora dos em pé jacadados!

Dôde cara com Bruno Chateaubriand e André Ramos. Pára, .
Fiz a Brigite e saí mega à francesa.
Vai que a bruxa se solta mais...

domingo, 26 de outubro de 2008

Luxúria

Seguro seus cabelos.
Molhados. Fartos.
Me emaranho neles lavados com cheiro de alecrim.
Exploro aquela curva que vai do pescoço até a ponta da orelha esquerda.
Nuca.
Mãos de dedos longos que tragam o cigarro e meu torpor.
A carne rosada da boca explora meus sentimentos.
Luxúria engarrafada com sabor de tequila.
Pele sobre pele.
Gosto de sal e limão no quente do vão das suas coxas entre colchas desarrumadas.
Lascivo.
Gemidos ao redor dos olhos, no céu da boca sedenta de carinho e contato.
Corpos tatuados, autuados, tangenciados.
Na horizontal.
No breu.
No gozo.
Yes gozo.
* Pra complementar o post...


domingo, 19 de outubro de 2008

Em pedra dura

O que é a confiança nesse mundo em que todos somos culpados até que se prove nossa inocência?
Olha de soslaio o cara que passa ao lado. Se ele diz que vai ligar no dia seguinte você não crê. Se alguém lhe oferece ajuda, vc quer saber o que o outro quer em troca. Se alguém lhe faz um elogio, você finge aceitar pq acha que é mentira. Esmola demais o santo desconfia. Que santo vai olhar por vc agora? E santos existem? Pode vê-los? Pq crê-los? Você tem muitos números de celular. Troca as senhas de duas em duas semanas. Checa os e-mails do namorado. Anda com spray de pimenta na bolsa. Disfarça e fotografa o taxista caso ele lhe cobre a mais pela corrida. O mundo é uma conspiração. Contra você. Contra todos nós. Vc duvida de sua capacidade. Do seu sex apeal. Da palavra. Da honra. Da vontade. Da fé. Por medo de confiar, vc deixa passar oportunidades. Por não querer acreditar, passa uma vida. Não ouvir é uma forma de desacreditar. Amizade despretensiosa não existe. Querem sempre tirar algo de você. O quão ingênuo já fora capaz de ser? Em que ponto deixou pra trás a verdade? Onde ela está agora? Consegue apontá-la? Tocá-la? Senti-la. Sentinela. Em alerta. Sempre. Onde vc foi parar? Em que estrada fez a curva? A quem vai recorrer nos piores momentos? Alguém te conhece? Se conhece? De verdade? Mas onde ela está? Agnósticos do fim do mundo. Mundo livre. Mundo livre? Confiar deve ser um ato transgressor...

"Suba neste barco
Naufragante e guie-o pra casa
Ainda temos tempo
Eleve sua voz esperançosa
Você pôde escolher
Você fez sua escolha agora"

* Baseado em dois filmes vistos no fds: "Apenas uma vez" e "Beijo Roubado". Aos que desconfiam, tentem!




terça-feira, 14 de outubro de 2008

Cariocar

É por isso que amo o Rio. Foi aqui que tornei gente com toda a incoerência a mim permitida e outorgada. Foi nessa cidade que conheci o samba e suas nuances em verde e rosa, com toda prosa que sobe e desce o morro de ladeiras íngremes pontuadas de notas musicais. Desci o asfalto e aos prantos dancei em sua avenida. Ladeada por uma imensidão de mar e de gente de corpos bronzeados. Foi aqui que encontrei uma espécie de nômades familiares com os quais esbarro nas areias, nos bares, nas esquinas. Fui até Madureira pra conhecer o rio azul e branco de poesia dos mestres. Atravessei a cidade pra brincar no confete da vermelho e branco da Tijuca. Fiquei até o amanhecer na Lapa de grafites neon com toda a sorte de diversidade. Ouvi o ecoar de tambores, chorei com a cuíca, e sorri com o repique de pandeiros e batucar de tamborins. O ritmo de bambas me fez mais feliz em Lá maior. Nessa terra de altíssimos lustres, olho o mar que invade o Vidigal e vai até a África passando pela Niemeyer. Ao sair do Joá, vejo o Dois Irmãos ladeado pela orla. Agradeço por me ser permitido me apoderar desse lugar. Eu carioco, tu cariocas e eles deveriam cariocar pelo menos uma vez na vida.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Tudo acontece em... ou De perto ninguém é normal

O celular toca. Número desconhecido.
Alô
Cris?
Não...
Não é a Cris?
Não...
Mas não é 9 sguenis flow number blaster?
É, mas a Cris e deu o meu número, seja ela quem for
Que coisa...
É... (ele tem a voz bonitinha)
Uma conspiração do universo?
Ou um tremenda cilada... (risos)
De onde vc é?
Rio
Eu sei, eu tb. Não viu o número?
Pra dizer a verdade nem olhei. (olhei sim, mas não reconheci)
Eu moro na Lagoa e vc?
In Flow. Qual seu nome?

Caio e vc?
Alice.
Puxa, Alice, que coisa incrível...
É? (claro !)
O que vc faz?
Sou roteirista (uh!)
Caramba, sou diretor.
Isso é vago, pode ser diretor da penitenciária...
É, posso... Acabei de chegar em casa.
Eu tb.
Fui ver a pré-estréia do filme do Sguenis.
Adoro o sguenis. O que achou?
Ótimo, blablabla
Vc mora sozinha? É solteira? Tem qtos anos?
Vc é diretor do IBGE? É do Censo?
Sou e quero saber qtos banheiros vc tem em casa (espirituoso. Gostei)
Apenas um, mas tenho duas TVs. Serve?
Cara, quero te ver. (oi?)
Vc é algum psycho?
Não, sou normal
Tenho medo de gte normal.
E muito curioso. Quero te ver agora.
Po, não rola, cheguei em casa... amanhã blablabla
To mais ferrado que vc. Tenho q pegar um avião às 7.
Então deveria dormir.
Me dá uma boa razão pra gente não se ver.
Posso listar umas 15 boas razões...
Fala...
To descabelada, bebi doses a mais de sakê, são quase duas da manhã, to cansada, tá frio, chovendo e ah, esqueci, não tenho tara em conhecer desconhecidos na madrugada. tá bom ?
Nada me convenceu. O que a gte tem a perder?
Sempre tem. Vc pode ser maluco, horroroso. Eu posso ser doida e horrível...
Eu pagaria pra ver. Vou aí ou vc vem aqui?
Com borda recheada ou cebola?
Versão básica. Deixa eu ir.
Po, nem sei quem é vc. Vc ligou pra Cris, esqueceu?
E to adorando ela não ter atendido. Vc não acha incrível isso? Nunca me aconteceu...
É, mas não estamos num filme e nem td acontece em Elizabeth Town ou é escrito nas estrelas...
Vc tem MSN? Abre aí (surge Caio)
Ai que merda, ainda por cima bonito!
E tem algo de errado nisso?
Td. Não sei lidar com homens bonitos. Td isso é excitante, mas bizarro demais até pros meus padrões. Sou careta, descabelada já falei, uma mulher comum, fora dos padrões vigentes. Não há nada que vc queira ver, pode apostar.
Não acredito em vc.
To dizendo a verdade.
Eu quero te conhecer e tem que ser agora.
Pq? Tem os dias contados?
Pego um avião de manhã...
Chantagista sem envergadura moral... Me dá cinco minutos.

Alice anda pela casa de um lado a outro. Se olha no espelho. É tentador, mas essas olheiras... E se ele for um louco psicopata, serial killer, uma espécie de Samara? Melhor não. Po, mas vai ficar na curiosidade. Ah foda-se!

E aí? Pensou?
Ok, Rua Sguenis. (Alice continuava atordoada. "Merda e agora?").

dobrando o quarteirão à esquerda... tá chovendo a beça... vc vai se molhar... cheguei... desce

Alice desceu. Olhou da portaria, viu um Honda Fit parado. Ninguém na rua. Só o porteiro varrendo a calçada. Atravessou. Abriu a porta.

Vc deve ser o Caio. Eu não sou a Cris. (ele não era tão bonito qto na foto, mas interessante)
Entra. Vai se molhar...

Alice entrou. Caio sorriu. Alice sentou-se, meio sem graça. Coração aos pulos. Caio se aproximou. O que era pra ser um cumprimento prosaico entre duas pessoas que não se conhecem transfrmou-se em cena de comédia romântica. Caio puxou seu rosto com as duas mãos, afagou-lhe os cabelos e tascou um beijo cinematográfico. Alice não conseguiu fazer um movimento e só disse:

Oi? Pera... (tarde demais)
Após o longo beijo, sorrisos meio desconexos, perguntas no ar. Mais beijos e abraços e bocas, cabelos, orelhas...
Vc vai me deixar subir?
Não.
Pq?
Quer oura lista de razões?
Quero.
Já ultrapassei meu limite. Não vai rolar.
Toma coragem e pula.
Tem que ter tela de proteção.
Devia tentar Bungee Jump.
Não.
Nada do que eu disser ou fizer vai te convencer?
Não. Sinto muito.
(Beijos, bocas, cabelos, pescoços...)
Bom, é isso. Boa viagem.
Boa noite. Gostei de ter vindo, mas preferia ficar...

* Baseado em fatos surreais

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Zequices e o tamanho do zéquiçu

"Zeca era meio encucado com o tamanho do pau. Assim como a grande maioria de seus pares é. Sabia que não era detentor de um grande acessório para divertimento alheio, mas procurava compensar com algumas habilidades que havia desenvolvido ao longo dos anos de alcova. Já havia feito uma porção de mulheres felizes. Incontáveis vezes assistiu ao gozo involuntário e pensava: "sou uma porra dum cara muito sortudo. Valeu, zequinha!". (Ok, o zequinha é licença poética). Nenhum cara gosta de ter o bilau chamado de qualquer diminutivo inho. É como prender as bolas no fecho da calça. Soco no rim, diria um amigo. Mas, Zeca, ultimamente se sentia meio grilado. Andava mais estressado que mãe de miss com os novos negócios que precisava prospectar, desde que decidiu ser o próprio patrão. A vida sexual, a bem da verdade, estava mais para um filme B, com Sharon Stone, que um grande BlockBuster estrelado por Scarlet Johanson. O mais do mesmo se repetia a cada duas sextas-feiras no mês. Com a mesma mulher. As reservas de mercado estavam escasseando e o crash da Bolsa seria inevitável em algum momento. Havia tentado aqueles joguinhos recreativos em frente ao computador, webcam ligada, focada no que o interessava mostrar (de baixo pra cima, claro, pq parecia maior). Fornicou virtualmente com algumas dúzias. Nada, porém, que fizesse grande dierença ao seu cotidiano de PP.
Numa dessas tardes tediosas recebeu de uma amiga com quem já havia tido uma vaga experiência sexual, um vídeo de um cara tecendo comentários sobre sua própria - a dele- anatomia desfavorecida. Em tom de brincadeira, decidiu responder com uma espécie de mea culpa engraçadinha: "Fico feliz em não ser o único".
Obviamente aguardou pacientemente breves segundos a resposta da mocinha, já prevendo uma ode ao seu magnífico pau. Cinco minutos. Dez. Quinze minutos e nenhum comentário sequer. Zeca irritou-se.
Andou de um lado para o ouro no escritório. Tentou jogar paciência. Tomou um café, acendeu um cigarro, dedos nervosos no mouse e nada.
"Puxa, ela concordou?
Não, não é possível... Quer dizer, é sim... Ela pensou. Pensou o tempo todo. Maldito pau pequeno. Deve ter achado ridículo.. Mas toda a literatura diz que não importa o tamanho... Tá, me enganei. O cara tem razão, o que importa é o tamanho do documento, e no meu caso nem identidade... um título de eleitor apenas...
Droga.
Como vou sair dessa numa próxima? Jamais acender a luz... vendá-la.
Boa!
Faço uns exercícios penianos e td vai dar certo. Ninguém vai acabar com meu dia. Só eu posso dizer que meu pau não é grande o suficiente. E também é frescura de mulher querer pau grande. O que importa é que não seja fino. É isso. Dane-se a anatomia...
Uh uh! (soquinhos no ar - olho na cx de e-mail. nenhuma resposta)
Será que ela recebeu a resposta? Ah, é isso. Ela não viu o e-mail e eu aqui pensando que ela não gosta do meu pau. Seu acéfalo. Ela vai responder, quando vir, que vc é o cara mais pauzudo do mundo. Um Conan, um Destruidor. Tá. nem tem como. Mas pera. Ela gozou.
Ah caralho! Ela gozou sim!
Tá, não foi com meu inho...
Pau pequeno da porra esse meu!
Vou sair daqui e estraçalhar a primeira boceta que vir na rua. Vou atravessá-la com meu potente instrumento, minha picareta. Quero ver alguém falar que sou desfavorecido de centimetragem pauzística. Quem é ela pra dizer que eu tenho o pau pequeno? Por acaso já trepou com um enorme? E daí? Nem gostava dela mesmo. Pra dizer a verdade achava até q ela trepava mal e cá entre nós, pagava um boquete muito do sem-graça.
Tá, eu pensava nesse boquete de vez em quando, mas era rapidinho. Vou mostrar pra ela quem tem pau pequeno!
Frígida!!!
Mulher frígida é uma merda. Sempre diz que tá com dor de cabeça e depois corre pra contar a amiga que meu pau é pequeno. Se foder!... Será q ela contou pra alguma amiga que meu pau é pequeno?
(MINUTOS DEPOIS ele recebe a resposta, super solidária e corretinha dizendo que imagina, o pau dele não é pequeno)
Porra, não vai dizer que é grande?????
Nunca vou entender as mulheres!"

* Segundo Zeca, a frígida em questão trepava bastante bem e, consta que pagava um boquete muito do bom.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

As lições de Clara

Esse tempo frio é uma desgraça pra cariocas amantes de sol, praia, Ipanema, chope gelado. Bom, como São Pedro deve ter chegado há pouco de uma excursão até Bariloche com a turma da terceira idade lá de Borborema, teremos mais dias chuvosos e cinzas. E quem conhece sabe, o balneário perde sua identidade nestas fases de french fries (fte fria na piada interna).

Ok. Pára tudo.
aqui falando de clima?
Oi?

Enfim, falando em outro clima, decidi escrever contos. E vou testá-los aqui.
Para deleite. Prazer. E, principalmente, pra me testar enquanto pretensa autora de seja lá o que vier...

"Ela passou o dia com os cabelos desgrenhados, a maquiagem ainda desbotada ao redor dos olhos. Era um domingo preguiçoso sem maiores expectativas. Uma rápida olhada no jornal. Se lembrou da noite anterior. Dos copos de vodka barata, dos tragos a mais. Do telefone trocado, que jamais irá tocar. Celular estudadamente desligado, decidiu que era hora de arrumar os armários. O seriado de TV, porém, foi mais ágil e a colocou inerte no sofá. Passava das três quando lembrou que já havia passado a hora do almoço. Abriu a geladeira, fez aquela rápida pesquisa de campo: um tomate, ovos, queijo meio vencido. Uma omelete era o máximo que conseguiria. Lembrou-se dos dias em que havia comida de gente em casa. Eduardo foi embora há alguns meses. Deixou Clara. Não, Clara os deixou. Deixou que o amor acabasse, que o dinheiro acabasse, que a comida acabasse. Clara tem uma enorme prática em fins nada lucrativos. De qualquer forma, se ergueu a sua maneira e se preparava para fazer uma omelete como nunca havia feito, por mais que Eduardo pedisse. Ela não sabia, ou não queria, fazer nada que Duda pedisse. Ele podia implorar, ir com jeito. Clara, em sua mediocridade neo-liberal não queria parecer subserviente. Agora pensava:
"Foda-se a subserviência. Quero mais é ser mulherzinha. Fritar ovo, lavar cueca, arrumar a cama, xingar se a toalha estiver na cama... Porra nenhuma, deve ser a ressaca", decretou.

Enquanto comia a omelete sem sal, copo de coca zero nas mãos, corria os olhos pela revista mulherzinha-ensina-me-a-ser-puta. Artigos mostravam como encarar posições sexuais do século 21, a se preparar para oferecer o melhor boquete da temporada e como amarrar o gato de uma vez por todas. Na hora engasgou. Não que fosso acometida de um falso puritanismo momentâneo. Clara não era dessas. Podia trepar na escada como fazer amor num motelzinho de nome duvidoso. Percebeu, no entanto, que não havia ninguém para praticar tais deveres de casa. Rapidamente se lembrou da última vez que sofreu o abate.

Tinha saído com o carinha da boate, um mês depois que Eduardo já não ocupava o lado direito da cama. Pela primeira vez levou um semi-desconhecido para casa. Estavam meio bebados. O cara não tinha camisinha. Clara também não. "Maldito Eduardo, onde ele guardava essa merda?". Achando que não deveria ligar pro ex-namorado pra saber em que diabos estavam os preservativos que raramente usavam, despachou o carinha pra farmácia. Ele foi. Sem saber o que fazer direito, Clara zanzava pelo quarto enrolada num edredom. Passou pelo espelho. Viu aquela figura medonha. Deixou o edredom no chão e aguardou a mercadoria.

Camisinha em cima, o clima voltou a rolar. Mas ela ainda não sabia o que fazer direito. Era estranho depois de um namoro de três anos estar com um cara novo. E oito anos mais novo. E a diferença, claro, fazia muita diferença, óbvio. O carinha era meio afoito, apressado. E pra piorar a situação não fazia aquilo. É! Aquilo... E Clara pensava em mandá-lo embora. Mas já que tinha o garotão no meio de suas pernas, decidiu-se pela caridade e tentou dar algumas liçoes ao moço para que ele a fizesse feliz momentaneamente e pudesse, quem sabe um dia, oferecer novos préstimos futuros. Com alguma dificuldade gozou. E o carinha também. Hora de mandá-lo pro vestiário e terminar o jogo. Os dois capotaram.

Clara acordou com a cabeça em frangalhos. Ao esticar os braços, sentiu um corpo. Não teve coragem de olhar para o lado. "Putaquiopariu!", pensou imediatamente. O corpo imóvel no lado da cama do Duda era do carinha sem talento para sexo oral. "Droga!", emitiu. Sem o menor talento para ocultar cadáveres, Clara se mexeu e tentou acordar o penetra. Nada. Levantou-se, foi até o banheiro, fez barulho no minúsculo apartamento. Nada. Decidiu dar uma de mãe malvada e partiu para o quarto: "Oi, olha só, preciso ir ao supermercado e vc tem que ir embora". Nenhum movimento. Clara puta da vida sacudiu o carinha bem na hora em que o celular dele começou a tocar. "Graças a Deus, agora ele vai". Era a mãe verdadeira querendo saber onde ele tinha passado a noite: "Oi, blz? Blz. Então tá, Blz". "Caralho, trepei com um acéfalo!".

Com algum custo e nenhuma sutileza, Clara enxotou o garoto prometendo a si mesma jamais tê-lo de volta no lugar que era do Duda na cama. Mas, naquele domingo frio, com a revista em mãos, pensou: "Pq não?". Na esperança do moço não atender o celular, ligou. Ele atendeu. "Oi, é a Clara.. anhã, to bem... frio ...quer vir aqui?". Pronto, a merda tava feita. Por encomenda. lembrou-se que no dia seguinte teria que trabalhar cedo para entregar um relatório. Era a desculpa perfeita para que ele se mandasse assim que resolvesse o problema dela. Para resguardar o lugar de Eduardo na cama, decidiu que não passariam do sofá. Acendeu uma velas, colocou o velho CD matador, caprichou na calcinha preta minúscula, vestidinho casual e aguardou sentada fazendo as contas de qto tempo não se permitia uma loucura.

A campainha tocou. Carinha com duas garrafas de vinho à porta. Dois beijinhos. Tudo muito civilizado. Conversaram sobre o Fluminense, o samba, a ex dele, o ex dela. Carinha pegou o pé dela e começou uma demorada massagem. Clara logo pensou que o moleque devia ter aprendido alguma coisa nesse meio período de reclusão. Os beijos vieram em seguida, e em seguida todo aquele repertório meio conhecido: boca-pescoço-amassos-peitos-pernas-pau-xoxota...

Ele não aprendeu. E Clara se arrependeu.
Mas decidiu falar dessa vez e levar td até o fim.
Estava disposta a gozar e iria fazer com que as moças da revista parecessem virgens prestes a se sacrificar. Puxou o garotão e mandou: "Olha só, vc tem que aprender a fazer isso direito. As mulheres vão ficar caídas por você e vão agradecer por isso, sempre". O olhar confuso do garoto deixou Clara constrangida por breves três segundos. Como uma adorável professorinha, Clara mostrou como ficaria bem melhor todo aquele malabarismo que o carinha fazia. Mas, para sua surpresa, ouviu: Sabe o que é? Eu não gosto muito de fazer".

Ducha fria urgente. Nele.
(Que diabos esse merdinha tá dizendo????)
"Não, claro, entendo sim. Quer mais vinho?"

Em meia hora, Clara se livrou da companhia e matou o resto da garrafa pensando que numa próxima vez teria mais sorte. Até lá, iria parar de ler revistas femininas que visam melhorar o orgasmo, apagar o telefone do frígido da agenda e comprar urgentemente um vibrador, que poderia até ocupar o lugar de Eduardo no lado direito da cama."


domingo, 21 de setembro de 2008

Três irmãs

Acordei com muitas saudades.
E saudade, esse substantivo feminino abstrato, dá até de coisa que a gente nem conhece. De gente que ainda está por vir.
No ar, a saudade de cheiro de bolo. Fui lá e fiz um.
Uma merda, claro.
Meus dotes culinários se negam a manifestação voluntária.
Mas bati: ovo, leite, manteiga, farinha...
E pensei na minha irmã.
Nelas, na verdade. Uma, que faz bolos incríveis, e outra, que mal sabe quebrar o ovo.
Somos extremamente diferentes. Fisicamente guardamos traços. A personalidade, porém, é tão díspare quanto zebras e leões convivendo num condomínio. Mas se complementam, no entanto. Em suas razões, nos corações, nas observações, nas não comparações. Crescemos num elo de proteção mútua, onde fomos índios e yankees, misturados ao sabor e temor de tempos difíceis. Como primogênita do clã, caiu sobre mim certa responsabilidade em servir de exemplo. Pra do meio, não fui certamente. A caçula ainda acredita piamente que devo ser eu uma espécie de She-ra, que a acolhe e resolve qualquer pendenga mais ou menos séria. É divertido vê-las hoje. Com suas escolhas, seus caminhos, seus futuros. O presente nos deixa distantes cada uma com seu mundo de poucas fantasias. Mas o passado nos visita lembrando quem fomos, quem somos e, quem sabe, o que seremos.
São delas meus melhores e piores dias, é delas meu maior orgulho, é delas meu prazer em estar junto, são delas meus mais sinceros sorrisos e lágrimas, são delas minha abnegação e cumplicidade, são delas meus dias e noites em defesa, são delas meu mais ferrenho ataque e proteção, é delas o meu melhor eu...






sábado, 20 de setembro de 2008

O muro

- oi
- oie
- 5 minutos em ponto
- vc é o cara
- eu sou... sempre!
- ah agora sim sem falsa modestia
- eu odeio celular, odeio
- joga pela janela
- vem cá, sexta em casa tipo segunda sem lei?
- ah, eu cheguei cedo... to morto de cansado
- hum, to comendo uma trufa quer um pedaço? rs
- quero!!!
- toma
- ah, traz aqui
- pera, vou entrar no site da gol e omprar a passagem
- será a trufa mais cara da história
- e mais divertida também! rs
- ah é, isso lá é verdade
- oba! adoro qdo concordam comigo
- eu, de uma forma ou outra, sempre acabo fazendo isso
- concordando COMIGO? desde quando?
- ué, sempre rsrsrsrs... tá, nem sempre
- tu ACABOU com o meu último texto... rs
- ih, nem tive tempo de ler a réplica
- é... eu nem respondi
- poizé, me senti meio burra, mas foi minha interpretação
- ah, foi maldade...
- ai, menino, lembrei d vc ontem. assisi pela oitava vez td acontece em elizabehown
- eu comprei o dvd estes dias mas não vi ainda de novo
- chorei
- é o melhor filme ruim de todos
- é, e o bloom com cara de paspalho
- to com dor nas costas... resolva isto por favor?
- ai eu tb
- não sei o que eu fiz to faz umas 2 semanas assim
- po, qdo chegar aí com a trufa nos fazemos uma massagem. só acho que vai demorar um cadinzin pra chegar aí... po, planeje vir pra cá
- eu tinha pensado em uma cirurgia ortpédica.... mas quem sabe seja mais divertido a massagem
- ou a passagem pra cá... pára e pensa, vc se livra delas momentaneamente, ganha uma trufa e uma massagem
- e do meu emprego! é... seria a solução perfeita
- pois é, te apresento a umas mozinhas
- tu quer complicar a minha vida ainda mais, dona Alice?
- ok, sem mocinhas Sr Sguenis
- grato
- to pensando em virar monge budista
- ah ótimo sempre quis ser budista e posso fazer minha iniciação com vc
- tu é virgem?
- supervirgem
- eu tb!
- perfeitos!
- ou sem graça
- bom, tendo graça vc não me levou pra viajar, quem sabe assim, atinjo o nirvana pelo menos
- a gente não viajou? com alguém eu fui... com quem foi então?
- bom, nesse caso, me reservo ao direito de não levar a trufa
- tu queria me apresentar mocinhas!!!
- vc disse que ia se casar comigo!!!!
- pra onde eu te levei?
- pra lugar algum, ou seja, tá acabando com minha auto-estima
- seria justo, tu me acusou injustamente de ter brochado
- nem vem, vc tá me devendo compulsoriamente
- pq????
- po, disse que casaria
- que tipo de animal sem consideração casa sóbrio?
- homens e mulheres bípedes
- sóbrios?
- tá... não
- já tava ficando preocupado com a tua recente fé na humanidade
- é, ando humanizada
- pq???????????
- TPM
- vc não deveria ficar menos humanizada na tpm?
- alterna... alguns meses, sou meio nikita, em outros, anne frank
- tu consegue alternar em minutos tb? deve ser legal... tipo o filme do john cusak aquele
- alterno tal qual a menina de o exorcista, ou seja, sou perfeita para muiTTTos
- muitos quem? eu me perdi nas analogias
- muitos caras, droga
- resolveu pegar geral agora?
- eu? nada, nao tenho talento. só um de 24 anos, mas me senti meio nabokov
- menos de 25 eu tenho medo... muito medo
- pois é, mas é bom para o moral
- e ruim pros neurônios
- ah, mas em hrs em que conversar é desnecessário faço isso com vc por ex
- ah... obrigado pela parte que me toca, adoro me sentir um objeto não-sexual
- ué, se quiser fazer outra coisa é só dizer rsrsrs a gte aproveita a relação custo beneficio da passagem
- acho bom, eu já tava ficando de mal mesmo!
- ok, façamos somente sexo daqui em diante
- e massagem... ou acupuntura, ou o que for... mas eu to com dor nas costas, poxa
- sexo resolve?
- acho que piora, dependendo da posição
- podemos optar pelo tantrico, nem vem, sexo é bom até com dor de cabeça
- sabe que pra mim é horrível? eu melhoro 95% durante e fico 2x pior depois
- ah, mas depois é só virar pro canto e dormir
- tu consegue dormir com a cabeça latejando?
- nao, mas pós sexo, se for bom, a cabeça é o q menos importará e de mais a mais toma uma neosa
- cefalium. cefalium tem um pacto com o demo
- nunca tomei
- toma um dia... vai mudar a tua vida mais do que a invenção do cortador de grama mudou
- causa impressões lisergicas?
- não, tu tá confundindo com LSD e com quick de morango
- ah droga
- para de falar comigo no piloto automático, poxa!!! só eu posso fazer isto comos outros!
- to conjecturando kct vc é o cara que nao casou comigo. ou seja, á sem credito
- e mais... sou o cara que vai te abandonar no msn pra conjecturar na cama agora
- bom, nesse caso tb vou conjecturar aos travesseiros
- os mesmos?
- os meus são sempre os mesmos. que lado da cama prefere?
- no meio
- no meio vai ter que ficar encostado em mim
- caiu o muro de berlin já?
- em 89 eu acho
- pq eu nunca sou informado das coisas?
- joga no google
- pois bem, no máximo colocamos um lençol para separar fronteiras
- mas quem diria que o muro cairia?
- que muro? o de lençol ou o de Berlim?
- de berlin, o de lençol qualquer confort derruba
- pois é, caiu
- deixa o misterio no ar então
- envolto em uma densa névoa?
- nas brumas...

* Ok, um velho amigo, naõ tão velho, de certa forma até gostosinho... E que provavelmente teve a dor de cabeça aumentada com a queda do muro. Pobre alma... Adeus, Lenin!

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Críptico

Não entenda
Se renda
Ou me prenda
Na fenda
da renda
Sem emenda
Sem legenda
Não se venda
na tenda
Acenda
Ascenda
Sem venda
Mas entenda
E não se ofenda
Nem tudo é uma lenda

domingo, 7 de setembro de 2008

Engov we trust

Coisas que não mais existirão ao meu lado quando beber:

celular
saltos altos
lápis de olho
celular
cigarro aceso
porta aberta
celular
roupas pelo chão
coca-cola
celular
computador
dinheiro
celular
gte doida
jagunços
celular
lustres
desconhecidos
celular

Engov we trust

* Continuem respondendo no post abaixo

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Um esquisito pra chamar de seu

A idéia foi da Lala do http://garotasdevinteepoucos.blogspot.com/ e decidi entrar na corrente "Um esquisito pra chamar de seu".




Bueno,
Já virei piada interna entre amigos e não tão amigos assim. Gosto de homem com cara de mané, esquisito, sedentário, gordinho, fumante, barba por fazer... Entre Brad e o cara de Ligeiramente grávidos ficaria com o gordinho, claro. Neguinho já até sabe, passou um mané lembram de mim no ato. Mas convenhamos, temos aqui uma série de pré-requisitos para o mané imperfeito da vez. Tenho ziquizira com mãos. Adoro. Obviamente vou olhar pro rosto do mané primeiro, mas corro para as mãos. E não tem assim um tipo específico. Tenho que bater os olhos e gostar. Não gosto dos que gesticulam muito pq me perco no assunto e de criança criada por babá espanhola já basta eu. Tb não curto muito aquelas peludas, sabe? Pois sempre lembro do Planeta dos Homens (humorístico old old ), com seus macacos com mãos mais cabeludas que a virilha da Claudia Ohana.

Na firma tem um mané típico. Óculos, língua presa, o cara que sempre deve ter ficado no canto de qualquer festa. Pronto, virou meu fetiche mais barato. Acho que ele percebe meu olhar meio devorador em sua direção. E às vzs acho que até corresponde. Mas ele tem aquele probleminha básico de aliança na mão esquerda. Portanto, é um mané platônico.

Outro dia, o jagunço da vez me pergunta se ele era um mané. Enrolei, enrolei. Falei que mané pra mim tem super cotação e tals. Pano rápido. Mas cá entre nós: ele tem cara de manezaço. O homem perfeito na minha descrição logo acima. Pra completar usa uns óculos assim meio fundo de garrafa. Um amigo certa vez soltou: pelamordedeus, não vale o ingresso! Achei engraçado a comparação. E pior que o mané não valia mesmo a disputa entre 15 de Piracicaba X Independentes de Borborema.

Minhas amigas sempre vêm com essa: cara, tem um garoto na pós que é a sua cara. Pode ler nas entrelinhas - M-A-N-É.

Analisando minha predileção por tal espécime chego a algumas preciosas conclusões. Primeiro, manés sempre podem te surpreender. Debaixo daquela aparência "ng me quer mesmo", por vezes pode se esconder um macho alfa da melhor qualidade em quesitos como harmonia, evolução, alegoria (UH!) e enredo. Pq, vamocombiná, mané que é mané sabe falar sobre todos os assuntos do mundo. Lê desde Superinteressante a bula de pasta de dente. Sabe exatamente qual banda inglesa hypou no cenário pop, conhece algumas letras de Chico Buarque, gosta de samba e até curte carnaval, nem que seja pra olhar os blocos, vai ao cinema pra ver filmes da mostra latina gay sem qq preconceito (ok, se for a muitas, desconfie), sabe cozinhar alguma coisa e se orgulha do miojo, já viajou pra locais exóticos como Quixadá, tem sempre ironia na ponta a língua e acredita no amor pra vida toda, nem que ela dure apenas alguns dias.

Em contrapartida, provavelmente, eu atraio manés. Dos bons e dos ruins. Ultimamente mais os ruins. Deve ser a entresafra. Segundo um ex-mané que freqüentou a casa, manés se sentem compelidos a me querer pq passo auto-suficiência, auto-estima elevadíssima e, de certa forma, tenho cara de quem devora homens...

Oi?

Virei um truque e não sabia. (assunto pra próximo post). Anyway, o próximo mané que cruzar a soleira será sabatinado por um questionário tal qual Censo. E vou conseguir saber, quem sabe, o que os atrai. Aguardem pesquisa de cunho antropológico para as próximas postagens.

E vcs? Listem aí suas preferências e concorram a uma linda peteca pra jogar com seu mané.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Climatologia

Quer saber?
K-gay pra Madonna.
É isso mesmo. Se não rolar um viaipi, quero mais que chova. Que role um Gustav no gramado. Vou pegar a grana que desembolsaria para ir ao Maraca e vou chafurdar com os amigos sem ingresso em casa vendo Blondie Ambitious Love. Po, é muita precariedade tupiniquim site que não funciona, telefone que só dá ocupado e fila de varar a madrugada. Na boa, queria mesmo era ter grana e vê-la em Paris ao lado daquela gte perfumada com Dior in loco.
Falando em Gustav... Ele passou por aqui. Já na segunda de manhã ventos sudoeste trouxeram uma puta cólica renal. Costumo dizer que a herança familiar não inclui vaquinhas leiteiras num gde pasto. Mas ziquizira vai ter de sobra no testamento dos velhos. Não fui trabalhar. Fiquei chapadaça no sofá, dormindo meio de olho aberto. Pra completar, abalos sísmicos rondaram meu dia. Mas o estrago que costumava fazer foi bem menos letal. Aliás, bem menos. Quase nada geral. Antes do dia D, com direito a twister, queria refletir sobre o fim de semana. Ouvi muita coisa legal, obra desse pqeueno espaço que meia dúzia lê. Na verdade, comprovei que bem mais que meia dúzia. Meu pai sabe do blog.
Medo.
Sabe aquela tensão tipo: putz descobriu a cartela de pilula?
Foi isso. Mas indolor. Aliás cheio de coisa boa.
Reiniciei a semana cheia de coragem apesar do antinflamatório e outras cositas.
Um reloaded básico.
Jantarzin na terça azarando o terceiro setor com amigos muy keridos.
Showzin de samba com amiga dear e pós chopex.
Uma coisas novas aparecendo.
Muitas risadas e a certeza de que o mundo é bão, Sebastião.
E como pra mim toda fase tem um hino, o da vez é esse aqui.


quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Até logo

Tá. Saí com ele.
Pela terceira vez.
E ele gosta realmente de mim.
E eu gosto o suficiente para não querer amá-lo.
Ele poderia me amar.
Talvez dentro da sua particularidade até ame.
Mas é pra uso tópico.
E nem tão tópico.
Tá. O mandei embora outra vez.
Mais sutil, sim.
Mas mandei.
Não queria mais.
Foi bom pro final que se propunha.
Não mais farei isso.
Eu acho.
Me servir e golfar.
Mas é só gozo.
E naqueles olhos então há o quê?
Clamor?
Amor?
De cá, certa culpa.
Tesão? Talvez.
Não o quero amarrado a mim.
Em mim.
Dentro.
Fecho a porta.
Abro a janla.
Solto a fumaça.
Foi bom?
Foi.
Mas só pra mim.
Não dá pra enganar alguém assim.
Voa.
Voa pra bem longe de mim.

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Meu principesco

Ele me lembra gargalhadas. Deita ao meu lado e me abraça o pescoço com as duas mãos. Agora deu pra ser metido a artista. É só fechar os olhos e sinto seu cheiro. Aqueles olhinhos rasgados, brilhantes, curiosos e vorazes. Deu pra dizer que quer ser jornalisa. Vê se pode. Acha que sou super-heroína e me chama de sem-vergonha com uma intimidade cortante. Quer me acompanhar. Me mostra sua biblioeca particular e me perguna sobre coisas que não sei dizer. Invento umas mirabolâncias e ele acha tudo incrível. Anda preocupado porque está falando tlês. Mas o inglês pronunciado precariamente é tão bonito. Sinto dor no peito ao ver o pé dele crescer. Já não consigo pegá-lo no colo. Mas continuamos jogando almofadas no chão, edredom e cabana. Leio as histórias de Ziraldo. Invenamos música. Criamos receita. Nunca imaginei que poderia ser o melhor companheiro que terei ao longo da estrada. Vê-lo criar asas me causa comoção e me emociona. Mas dá medo. Em saber que o mundo tá aí e que ele vai se servir dele. Em posições opostas. Força motriz que desafia o vento. É bom contar-lhe histórias. Deu de ficar roendo unha enquanto assiste TV. E tá achando o máximo se ver em propaganda. Assistimos juntos a filmes e é meu fã enquanto danço a música do Panda. Odeia meu cigarro e diz que vou morre rápido. Já pediu pra eu parar. Devo conseguir. Ele me dá saudade da infância com suas conclusões definitivas. Suas palavras inventadas no seu glossário particular. Cuble em vez de clube. Tesse em vez de tivesse. Calina em vez de Carolina. Aligenina em vez de alienígena... A cada segundo amo mais. E talvez seja o único amor sincero que sinto hoje em dia. Em via de mão dupla. Estivemos revendo Partimpim esse fds. E descubro, vejam só, que a música preferida dele não é mais ligliglé. Agora gosta de Poeta aprendiz. De Vinícius. É ou não é pra amar incondicionalmente.

Para Felipe, com todo o amor que existe no coração torto da Tia Calina

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Samba de uma nota só

Um amor só é bom
Quando é prá dois
Eterno é antes e depois
Agora não vou mais me enganar
Não quero mais sofrer, não dá
Se o teu desejo era me ver
Se deu vontade de saber
Se tô feliz
Até posso dizer que sim
O teu reinado acabou
Chegou ao fim
Eu não nasci prá você
Nem você prá mim...
E é isso.
Um adeus em forma de samba. Sabe aquela vontade que se tem de ficar umas doze horas no chuveiro pra tirar do corpo qualquer resquício do outro? Quase virei a Luciana Vendramini debaixo de anta água. Percebi que o máximo que conseguiria era ficar com a pele enrrugada tal qual herói da natação e no mais contrair uma indesejável pneumonia. Talvez conseguisse algo que me anestesiasse até tudo passar. Mas não consigo me ver prostrada esperando as horas.
Meu tempo é agora e não quero que isso se torne maior do que realmente deva ser.
É inho.
Inho demais pra tirar meu sono, meu sorriso, minha paz.
Não vou apagar isso de mim.
Não dá pra passar borracha em caneta hidrocor. É sempre um borrão.
Então melhor que envelheça, desapareça com o que chega depois.
Seja substituído até não mais ser lembrado.
E se aprenda com a insensatez.
Prá você é o fim da estrada
Com você fechei a tampa
Da minha casa
Dos meus amigos
Chega!
Ainda mais agora
Que eu "vou viajei"
E me livrei de você
Não quero mais ser seu amigo
Nem inimigo
Nada!

domingo, 24 de agosto de 2008

Um brinde ao amor

Assisti a uma das cerimônias de casamento mais bonitas que já vi. Não pela decoração, o vestido da noiva ou as músicas no violino. Mas por ter sido tocante ver a amiga entrando aos prantos na igreja de braços dados com o pai, um senhorzinho de seus mais de 80 anos. Ela a caminho do que acredia ser sua felicidade. Ele, com aquele olhar de dever cumprido. Casando a última filha, justamente aquela que não veio de seus genes. A mais paparicada, no entanto. E foi tão bom pensar que existe gente no mundo capaz de amar em larga escala, com tamanha generosidade no olhar. E ver um noivo tão emocionado por, finalmente, estar com sua mulher nos braços foi realmente bonito.
Não me casei na igreja. Trocamos aliança e fomos morar juntos como tantos casais apaixonados. Não faz parte dos meus desejos mais íntimos. Sempre achei os dogmas muito muito estranhos à minha pessoa. Talvez tivesse feito algum senido na época. Mas não rolou.
Talvez até me case de novo um dia, num belíssimo gramado, com muito Beatles e champagne. Ou algo muito próximo a Hair. Até combinamos um casamento. Eu e best friend. Agradamos a todos e ainda comemoramos.
E ontem tive novamente a comprovação de que quem tem amigos tem um pouco mais que tudo na vida. Os meus me protegem, são corporativos, tomam as dores, as raivas e me cercarm de amor. Se alguém esteve numa saia justa, não fui eu. Estava linda, de vermelho da cabeça aos pés, feliz por compartilhar a felicidade de um casal que tem toda a minha admiração.
Aos noivos, todo meu amor, carinho e amizade.

* Ok, post politicamente correto. Mas a noiva merece
Depois escrevo outro contando a última (última mesmo) do Jagunço.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Nowhere man

Você é tão cheio de verdades absolutas, de crises existencialistas, de ironia phyna.
E gosto tanto dessa sua inquietude e inconformidade. E o não receio de ser incorreto, de ir na contramão do que é belo e aceitável. Gosto desse humor cáustico. Por vezes proposital. Um Bill Mulray de 30 anos. Uma gata borralheira sem sapatinho de cristal. Você fala por parábolas. Escreve com dissonância. Ora quer. Ora não faz a menor questão. Não importa o que pensam de você. Mas lhe é cara a ufania. Uma espécie de epifania em torno de um personagem. Ser utópico, de questões não reveladoras. Quase monocórdico para quem não quer te ler nas entrelinhas. Mas ultracromático para quem pode, um dia, enxergá-lo. De uma tríade você é mentor, um grilo falante sem cartola. Sozinho, é metade homem metade pássaro, que deseja asas pra sair por aí com olhos de curiosidade. Pra conhecer o que já sabe existir. Aprofundar-se no nada, no de repente e no talvez. Mas vc gosta do é e se acanha com o que podia ser. Os sonhos estão por aí, em algum lugar, lendo cardápios e esperando pelo maitre com a sugestão do dia. E você, claro, vai escolher o que não tem. Porque acha que é seu direito discutir. Gosta da função de agitador. De centrifugador dos pensamentos alheios. Curte provocar reações. E é das mais raivosas das quais se orgulha. Embora deseje com ardor as mais carinhosas e em profusão. Um mito até aqui. Não pelo legado. Ainda não o tem. Mas pela sombra que deixa rastros duvidosos. E qual certeza se tem além de que o pode ser é sempre uma possibilidade concreta?

Este post é dedicado ao desconhecido que, ao traçar linhas quase esquizofrênicas, me faz bem feliz. Só por saber que existem pessoas tão incríveis quanto eu no mundo...

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Amor de Jukebox

O amor que a gente vê nos olhos molhados. Que sai da boca úmida. Que invade as ruas e os cinemas. Que se senta ao café e fita a sombra sem qualquer pretensão de racionalidade. Que desenha no ar com pincéis imaginários. Papel e carvão. Parede de concreto azul. Dando vazão ao inexplicável. Oriundo do desejo de apenas estar. Que combina com sonoridades suaves, com boleros duvidosos, com cenas de cafonice arbitrária. Destoa da raiva, da tristeza, do não querer e não ser querido. Do afobar-se. Da cantoria desatinada, desafinada, desarvoirada, descompassada, desmiolada.
"If I fell in love with you
Would you promise to be true
And help me understand?
'Cause I've been in love before
And I found that love was more
Than just holdin' hands"
E quantas promessas se fazem presentes sem garantir um futuro? E quantas certezas cabem na palma das mãos dadas? Nos rostos gelados de uma manhã de inverno? Quantos anos se escondem nos cabelos emaranhados às primeiras horas do dia anterior? Quantas gargalhadas sem nenhuma graça óbvia?
"You're asking me will my love grow
I don't know, I don't know
You stick around now it may show
I don't know, I don't know"
O problema é sempre querer saber até quando. É procurar por prazos. É não perceber que tudo tem prazo de validade. Que o que nasce intenso demais pode queimar a lâmpada. Que desprender eneria com pouca coisa pode criar tornados. Um dia de cada vez. Com acertos e erros. Ninguém gosta de derrotas. Mas é quase sempre inevitável. Senão cíclico o amor.
"'Oh, darling
If you leave me,
I'll never make it alone
Believe me when I beg you,
Don't ever leave me alone"
E aí tudo parece desmoronar. O entendimento não há. O conceito já era. O ápice foi apagado, camuflado. Saturou. Porque se queria demais. Depositou-se muito na conta do outro. Fez dele um laranja de todos os desejos e historinhas fantasiosas. Prendeu-o numa gaveta de arquivo morto. Deixou a poeira tomar conta do que podia estar em posição de destaque. Tal qual bibelô, quebrou-se. Frágil e inconseqüente.
"Words are flowing out like
endless rain into a paper cup,
They slither while they pass
they slip away
across the universe
Pools of sorrow, waves of joy
are drifting through my opened mind
Possessing and caressing me"
E quando tudo passa, se acalma e torna-se raso, se pensa no que deu errado. E vê-se que o não acerto foi apenas provocado. E é possível remover a pá de cal. É possível deixar debaixo do tapete todos os impropérios ditos, velados e testemunhados. É hora de buscar antídoto pro veneno de estar só querendo-se unido. É preciso redescobrir o amar. E todos precisamos de amor.





* Post baseado no filme musical "Across the universe". Não deixe de assistir e se apaixone.