sexta-feira, 3 de abril de 2009

Toda caixa é de Pandora?

Se você encontrasse agora uma caixa com tudo o que deixou guardado desde a juventude, o que estaria lá dentro? É uma pergunta que vem me atormentando há horas. Quantas coisas podem ter sido embaladas pela covardia? Ou ainda, quantas coisas estão lá porque tive coragem de colocá-las ali para que um dia, talvez, fossem finalmente libertadas? Na minha caixa, provavelmente, tem muitos livros que me acompanharam. Diários de um tempo em que acreditava que folhas secas só caíam no outono, que um amor existia pela vida inteira, que mais tarde as coisas seriam bem mais fáceis. Na minha caixa tem fitas K7 (pra quem não sabe o que é é um dispositivo que guarda as melhores músicas de fossa de sua adolescência se vc nasceu nos anos 70) gravadas da FM, do tempo em que o quarto era refúgio de dias ruins. Deve ter por ali aquela fitinha do Senhor do Bonfim que arrebentou, mas cujo desejo jamais se cumpriu, algumas fotos carcomidas, nas quais já não reconheço a ingenuidade daquele olhar, revistas em quadrinhos, bilhetinhos do correio do amor que jamais foram entregues pelo medo da rejeição. No fundo da minha caixa devem estar as cartas longas, profundas e irrascíveis que escrevi pro menino mais bonito do cursinho de inglês, que jamais se virou na minha direção. Como ele deve estar agora? Provavelmente careca, barrigudo e ainda assim não vai se voltar em minha direção... Tem ali tb umas jóias antiguinhas, presente bem intencionado, porém, equivocado do meu pai. Meu gosto por bijouteria deve ter um cunho psicológico enorme. Só isso pra explicar a minha predileção pelo que vai acabar em qq momento. Se fosse ouro... ah, se fosse ouro duraria pra sempre. Mas como tenho medo do que dura pra sempre. Como aquele tênis incrível que ainda tem um dos pés na cx. Guardei pra lembrar como foi andar com liberdade pela primeira vez. Canetas que jamais usei e perderam a tina, papéis de carta que jamais utilizei para enviar amor, chaveiros que jamais serviram para transportar o chegar e sair, panos que jamais viraram vaidade. Quanta coisa há ali para se lembrar. E esquecer. Se pudesse, o que faria com tudo isso que encontrou? Incinerar? Doar? Restaurar? Será que há restauro para o que ficou enterrado 20 anos? Mas a caixa está ali, na sua frente. Com tudo o que vc quis lembrar e esconder. Que paradoxo é se encontrar consigo mesmo depois de anos de retóricas assumidas e posições radicais. Quem é você, afinal? A poeira daquela caixa ou o que fez após a tampa?

Divide aí comigo
Pra imaginação rolar solta, uma música que faz parte da minha caixa em quadro negro.

18 comentários:

Anna disse...

Putaqueopareo...todas as vezes que passo por aqui, eu me apaixono mais por seus textos. Ótimo fim de semana!!!

Homem do Cafezinho disse...

É querida, cada vez que passo por aqui tomo um soco no estômago....

Mas sempre me faz bem!!! Saudades também, muitas coisas pra resolver e pouca inspiração dá nisso. Mas prometo que um dia volto.....qdo quiser um café!!!

Fernando Rocha disse...

Muito bom o seu texto, uma forma original de modelar uma busca do tempo perdido.
Creio que eu seja os dois, o que está dentro da caixa, amedrontada por não querer sair e encontrar o que está aqui fora, com olhar julgardor e niilista. O que está aqui fora que tenta interpretar e acolher o que está lá dentro, mas sofre pela rejeição.
Há um livro muito legal de um filósofo americano chamado Jacob Needleman,que tem como temática um assunto semelhante ao do seu post, o livro chama-se "O tempo e a alma"

Tati disse...

Adorei 'especialmente' esse post. Pq eu tenho uma caixa redonda (enorme) onde estão todos os meus diários (dos 12 aos 27!!!!). Depois deles, comecei a escrever em blog. Não os leio. Não por nada. Quero apenas tê-los. Também tenho um baú estiloso e moderno (tem um Fernando Pessoa parecido com o que tatuei na perna) com todas as cartas, de todos os amigos, colegas e quase desconhecidos, separados por pessoa e em ordem cronológica. Deve ter alguma doença que explique essa "arrumação toda", mas eu gosto de colecionar sentimentos, ainda mais quando eles estão materializados.

E respondendo a sua pergunta: toda caixa é de Pandora sim. E se estiver vazia, é pq alguém passou por ali antes.

Unknown disse...

Tenho tanto medo das minhas caixas...
Muito bom texto!!!

VelhaChata disse...

Minha caixa teria coisas parecidas com as suas... Fitas K7 que eu mesma gravava para dar de presente aos amigos da escola. Tinha uma, só com 'o Fino da Fossa', que tinha o nome de 'Pra Chorar'. Minhas amigas amavam. Passei a comercializar e ganhei uma grana na época.
Visita meu blog. Depois te conto quem eu sou, se vc não descobrir antes... ré ré ré.
Bezo! (Há!)

Anônimo disse...

Acho que agora sai com o meu avatar. Será?

Diane Lorde disse...

Quem não tiver a caixa de Pandora que atire a 1ªpedra, a sua pelo visto será guardada para sempre em seu coração, muito inspirador!

Evy disse...

:Nossa...
Acho que encontraria tanta coisa que me faria rir mas tanta coisa que me faria chorar...

Mas do jeito que sou, jamais jogaria fora ou queimaria.
Guardo tudo mesmo!
=*

dri disse...

por que não ser sua fã? O texto ficou bom demais. Nem tão experiente na vida assim, mas já com uma caixinha,eu diria!

XTrobo disse...

Uau, que dilema?
O que fazer durante uma viagem no tempo, sem a máquina do tempo, em si?
O pior é que as minhas coisas não ficaram trancadas na caixa de Pandora... ficaram à vista todo esse tempo, se deteriorando...

Bibi disse...

Menina, sei que você uma metáfora da vida, mas... Hoje, minutos antes de ler esse texto, estava eu fazendo uma faxina na caixa em que guardo (e guardava) um monte de lembranças do tempo. Joguei muitas cartas fora! Bilhetes de amor, fotos, cartões. Tudo fora! Ainda assim, reservei um ou dois detalhes que são importantes. Para mim e para os que devem vir após mim!
Adoro essas similaridades

Iza disse...

A minha ficou na casa antiga, felizmente, senão eu a estaria revirando agora mesmo, em busca das tais fitas (no meu caso, algumas ganhas de pessoas que eu teria deixado na caixa também, se pudesse) que eu nem tenho como ouvir agora. Malditos mp3...
Anyway, quem sou eu pra condenar as caixas de Pandora. Mas não quero tirar meus ítens (do bem e do mal) dali... Perigoso mexer com o desconhecido, diria minha mãe!! ;)

Iza disse...

Inclusive, lembrei agora, temos que marcar aquele café que está virando lenda. Ou qquer outra coisa...

. disse...

Eu tenho uma caixa não muito grande,lá estão guardadas coisas que foram muito importantes p mim,digo foram,pq algumas já passaram, e outras coisas,apesar de já terem um tempo,mas são daquelas coisas, que aparecem em nossa vida p marcar,são coisas que ficam.

ótimo seu texto,

bjos,bom fim de semana.

Juliany Alencar disse...

Ótimo texto! Me fez refletir bastante... Com certeza a minha caixa tem muita coisa, principalmente, fotos e cartas. Adoro!

T. disse...

Ai querida, a gente sempre escreve sobre coisas parecidas.

Um beijão pra vc, Alice... e desce do lustre.

Madame Poison disse...

Eu sou uma nostálgica por natureza. Gosto de recordar, de refletir sobre o que mudou (pra melhor ou pior), de pensar: puta que pariu heim! Que merda qe eu fiz...Não podia ser eu...hehehe