segunda-feira, 16 de março de 2009

A primeira vez que não te vi

A primeira vez que não te vi não percebi aquele seu olhar atravessado, enviezado
Na direção do nada
Na direção do tudo
A primeira vez que não te vi não pisei na sua sombra sem disfarçar meu acanhamento
Sorri ao vento
Com batom nos dentes
A primeira vez que não te vi não esbarrei em sua perna e não pedi desculpas, não disse adeus
Até breve
Até nunca mais
A primeira vez que não te vi gostei da sua boca proferindo palavras tolas
Ferindo a língua
Em frases vãs
A primeira vez que não te vi entendi seus pensamentos ordenados em fichas de tópicos
Com acentos
E defesas
A primeira vez que não te vi não acreditei em fantasmas do passado presente
Em tempo
cronológico
A primeira vez que não te vi não aceitei facilmente seus elogios e questões
Esporádicas
Misteriosas
A primeira vez que não te vi nao olhei pra fotografia que fez de si mesmo ao
Se esconder
No espelho
A primeira vez que não te vi te reconheci por seus medos e receios
De se abrir
De existir

3 comentários:

Bibi disse...

Texto gostoso. Leve. Emblemático. De quem se esconde e esconde muitas das respostas que a gente quer ter...

Qualquer Um (Bigduda Nobody) disse...

Cara Alice que Ainda Mora Aqui,

Quando será que sabemos a primeira vez em que não vemos alguém? Momento de libertaçao. Reviravolta na rotina de ver alguém em todo lugar.
Cortazar em uma des suas poesias espera por este dia de nao ver:
e enojaré amor mío,
sin que sea por ti,
y compraré bombones
pero no para ti,
me pararé en la esquina
a la que no vendrás,
y diré las palabras que se dicen
y comeré las cosas que se comen
y soñaré las cosas que se sueñan
y sé muy bien que no estarás,
ni aquí adentro, la cárcel
donde aún te retengo,
ni allí fuera, este río de calles
y de puentes.
No estarás para nada,
no serás ni recuerdo,
y cuando piense en ti
pensaré un pensamiento
que oscuramente
trata de acordarse de ti.

ab
Edu

Fernando Rocha disse...

Muita gente acredita que existe amor á primeira vista, mas na verdade o que acontece amor a primeira atenção, segunda ou terceira quem sabe?
Evaporar é uma das minhas canções favoritas do século XXI, influência do Pessoa, indagação da existência, simplismente linda!