domingo, 26 de outubro de 2008

Luxúria

Seguro seus cabelos.
Molhados. Fartos.
Me emaranho neles lavados com cheiro de alecrim.
Exploro aquela curva que vai do pescoço até a ponta da orelha esquerda.
Nuca.
Mãos de dedos longos que tragam o cigarro e meu torpor.
A carne rosada da boca explora meus sentimentos.
Luxúria engarrafada com sabor de tequila.
Pele sobre pele.
Gosto de sal e limão no quente do vão das suas coxas entre colchas desarrumadas.
Lascivo.
Gemidos ao redor dos olhos, no céu da boca sedenta de carinho e contato.
Corpos tatuados, autuados, tangenciados.
Na horizontal.
No breu.
No gozo.
Yes gozo.
* Pra complementar o post...


domingo, 19 de outubro de 2008

Em pedra dura

O que é a confiança nesse mundo em que todos somos culpados até que se prove nossa inocência?
Olha de soslaio o cara que passa ao lado. Se ele diz que vai ligar no dia seguinte você não crê. Se alguém lhe oferece ajuda, vc quer saber o que o outro quer em troca. Se alguém lhe faz um elogio, você finge aceitar pq acha que é mentira. Esmola demais o santo desconfia. Que santo vai olhar por vc agora? E santos existem? Pode vê-los? Pq crê-los? Você tem muitos números de celular. Troca as senhas de duas em duas semanas. Checa os e-mails do namorado. Anda com spray de pimenta na bolsa. Disfarça e fotografa o taxista caso ele lhe cobre a mais pela corrida. O mundo é uma conspiração. Contra você. Contra todos nós. Vc duvida de sua capacidade. Do seu sex apeal. Da palavra. Da honra. Da vontade. Da fé. Por medo de confiar, vc deixa passar oportunidades. Por não querer acreditar, passa uma vida. Não ouvir é uma forma de desacreditar. Amizade despretensiosa não existe. Querem sempre tirar algo de você. O quão ingênuo já fora capaz de ser? Em que ponto deixou pra trás a verdade? Onde ela está agora? Consegue apontá-la? Tocá-la? Senti-la. Sentinela. Em alerta. Sempre. Onde vc foi parar? Em que estrada fez a curva? A quem vai recorrer nos piores momentos? Alguém te conhece? Se conhece? De verdade? Mas onde ela está? Agnósticos do fim do mundo. Mundo livre. Mundo livre? Confiar deve ser um ato transgressor...

"Suba neste barco
Naufragante e guie-o pra casa
Ainda temos tempo
Eleve sua voz esperançosa
Você pôde escolher
Você fez sua escolha agora"

* Baseado em dois filmes vistos no fds: "Apenas uma vez" e "Beijo Roubado". Aos que desconfiam, tentem!




terça-feira, 14 de outubro de 2008

Cariocar

É por isso que amo o Rio. Foi aqui que tornei gente com toda a incoerência a mim permitida e outorgada. Foi nessa cidade que conheci o samba e suas nuances em verde e rosa, com toda prosa que sobe e desce o morro de ladeiras íngremes pontuadas de notas musicais. Desci o asfalto e aos prantos dancei em sua avenida. Ladeada por uma imensidão de mar e de gente de corpos bronzeados. Foi aqui que encontrei uma espécie de nômades familiares com os quais esbarro nas areias, nos bares, nas esquinas. Fui até Madureira pra conhecer o rio azul e branco de poesia dos mestres. Atravessei a cidade pra brincar no confete da vermelho e branco da Tijuca. Fiquei até o amanhecer na Lapa de grafites neon com toda a sorte de diversidade. Ouvi o ecoar de tambores, chorei com a cuíca, e sorri com o repique de pandeiros e batucar de tamborins. O ritmo de bambas me fez mais feliz em Lá maior. Nessa terra de altíssimos lustres, olho o mar que invade o Vidigal e vai até a África passando pela Niemeyer. Ao sair do Joá, vejo o Dois Irmãos ladeado pela orla. Agradeço por me ser permitido me apoderar desse lugar. Eu carioco, tu cariocas e eles deveriam cariocar pelo menos uma vez na vida.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Tudo acontece em... ou De perto ninguém é normal

O celular toca. Número desconhecido.
Alô
Cris?
Não...
Não é a Cris?
Não...
Mas não é 9 sguenis flow number blaster?
É, mas a Cris e deu o meu número, seja ela quem for
Que coisa...
É... (ele tem a voz bonitinha)
Uma conspiração do universo?
Ou um tremenda cilada... (risos)
De onde vc é?
Rio
Eu sei, eu tb. Não viu o número?
Pra dizer a verdade nem olhei. (olhei sim, mas não reconheci)
Eu moro na Lagoa e vc?
In Flow. Qual seu nome?

Caio e vc?
Alice.
Puxa, Alice, que coisa incrível...
É? (claro !)
O que vc faz?
Sou roteirista (uh!)
Caramba, sou diretor.
Isso é vago, pode ser diretor da penitenciária...
É, posso... Acabei de chegar em casa.
Eu tb.
Fui ver a pré-estréia do filme do Sguenis.
Adoro o sguenis. O que achou?
Ótimo, blablabla
Vc mora sozinha? É solteira? Tem qtos anos?
Vc é diretor do IBGE? É do Censo?
Sou e quero saber qtos banheiros vc tem em casa (espirituoso. Gostei)
Apenas um, mas tenho duas TVs. Serve?
Cara, quero te ver. (oi?)
Vc é algum psycho?
Não, sou normal
Tenho medo de gte normal.
E muito curioso. Quero te ver agora.
Po, não rola, cheguei em casa... amanhã blablabla
To mais ferrado que vc. Tenho q pegar um avião às 7.
Então deveria dormir.
Me dá uma boa razão pra gente não se ver.
Posso listar umas 15 boas razões...
Fala...
To descabelada, bebi doses a mais de sakê, são quase duas da manhã, to cansada, tá frio, chovendo e ah, esqueci, não tenho tara em conhecer desconhecidos na madrugada. tá bom ?
Nada me convenceu. O que a gte tem a perder?
Sempre tem. Vc pode ser maluco, horroroso. Eu posso ser doida e horrível...
Eu pagaria pra ver. Vou aí ou vc vem aqui?
Com borda recheada ou cebola?
Versão básica. Deixa eu ir.
Po, nem sei quem é vc. Vc ligou pra Cris, esqueceu?
E to adorando ela não ter atendido. Vc não acha incrível isso? Nunca me aconteceu...
É, mas não estamos num filme e nem td acontece em Elizabeth Town ou é escrito nas estrelas...
Vc tem MSN? Abre aí (surge Caio)
Ai que merda, ainda por cima bonito!
E tem algo de errado nisso?
Td. Não sei lidar com homens bonitos. Td isso é excitante, mas bizarro demais até pros meus padrões. Sou careta, descabelada já falei, uma mulher comum, fora dos padrões vigentes. Não há nada que vc queira ver, pode apostar.
Não acredito em vc.
To dizendo a verdade.
Eu quero te conhecer e tem que ser agora.
Pq? Tem os dias contados?
Pego um avião de manhã...
Chantagista sem envergadura moral... Me dá cinco minutos.

Alice anda pela casa de um lado a outro. Se olha no espelho. É tentador, mas essas olheiras... E se ele for um louco psicopata, serial killer, uma espécie de Samara? Melhor não. Po, mas vai ficar na curiosidade. Ah foda-se!

E aí? Pensou?
Ok, Rua Sguenis. (Alice continuava atordoada. "Merda e agora?").

dobrando o quarteirão à esquerda... tá chovendo a beça... vc vai se molhar... cheguei... desce

Alice desceu. Olhou da portaria, viu um Honda Fit parado. Ninguém na rua. Só o porteiro varrendo a calçada. Atravessou. Abriu a porta.

Vc deve ser o Caio. Eu não sou a Cris. (ele não era tão bonito qto na foto, mas interessante)
Entra. Vai se molhar...

Alice entrou. Caio sorriu. Alice sentou-se, meio sem graça. Coração aos pulos. Caio se aproximou. O que era pra ser um cumprimento prosaico entre duas pessoas que não se conhecem transfrmou-se em cena de comédia romântica. Caio puxou seu rosto com as duas mãos, afagou-lhe os cabelos e tascou um beijo cinematográfico. Alice não conseguiu fazer um movimento e só disse:

Oi? Pera... (tarde demais)
Após o longo beijo, sorrisos meio desconexos, perguntas no ar. Mais beijos e abraços e bocas, cabelos, orelhas...
Vc vai me deixar subir?
Não.
Pq?
Quer oura lista de razões?
Quero.
Já ultrapassei meu limite. Não vai rolar.
Toma coragem e pula.
Tem que ter tela de proteção.
Devia tentar Bungee Jump.
Não.
Nada do que eu disser ou fizer vai te convencer?
Não. Sinto muito.
(Beijos, bocas, cabelos, pescoços...)
Bom, é isso. Boa viagem.
Boa noite. Gostei de ter vindo, mas preferia ficar...

* Baseado em fatos surreais

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Zequices e o tamanho do zéquiçu

"Zeca era meio encucado com o tamanho do pau. Assim como a grande maioria de seus pares é. Sabia que não era detentor de um grande acessório para divertimento alheio, mas procurava compensar com algumas habilidades que havia desenvolvido ao longo dos anos de alcova. Já havia feito uma porção de mulheres felizes. Incontáveis vezes assistiu ao gozo involuntário e pensava: "sou uma porra dum cara muito sortudo. Valeu, zequinha!". (Ok, o zequinha é licença poética). Nenhum cara gosta de ter o bilau chamado de qualquer diminutivo inho. É como prender as bolas no fecho da calça. Soco no rim, diria um amigo. Mas, Zeca, ultimamente se sentia meio grilado. Andava mais estressado que mãe de miss com os novos negócios que precisava prospectar, desde que decidiu ser o próprio patrão. A vida sexual, a bem da verdade, estava mais para um filme B, com Sharon Stone, que um grande BlockBuster estrelado por Scarlet Johanson. O mais do mesmo se repetia a cada duas sextas-feiras no mês. Com a mesma mulher. As reservas de mercado estavam escasseando e o crash da Bolsa seria inevitável em algum momento. Havia tentado aqueles joguinhos recreativos em frente ao computador, webcam ligada, focada no que o interessava mostrar (de baixo pra cima, claro, pq parecia maior). Fornicou virtualmente com algumas dúzias. Nada, porém, que fizesse grande dierença ao seu cotidiano de PP.
Numa dessas tardes tediosas recebeu de uma amiga com quem já havia tido uma vaga experiência sexual, um vídeo de um cara tecendo comentários sobre sua própria - a dele- anatomia desfavorecida. Em tom de brincadeira, decidiu responder com uma espécie de mea culpa engraçadinha: "Fico feliz em não ser o único".
Obviamente aguardou pacientemente breves segundos a resposta da mocinha, já prevendo uma ode ao seu magnífico pau. Cinco minutos. Dez. Quinze minutos e nenhum comentário sequer. Zeca irritou-se.
Andou de um lado para o ouro no escritório. Tentou jogar paciência. Tomou um café, acendeu um cigarro, dedos nervosos no mouse e nada.
"Puxa, ela concordou?
Não, não é possível... Quer dizer, é sim... Ela pensou. Pensou o tempo todo. Maldito pau pequeno. Deve ter achado ridículo.. Mas toda a literatura diz que não importa o tamanho... Tá, me enganei. O cara tem razão, o que importa é o tamanho do documento, e no meu caso nem identidade... um título de eleitor apenas...
Droga.
Como vou sair dessa numa próxima? Jamais acender a luz... vendá-la.
Boa!
Faço uns exercícios penianos e td vai dar certo. Ninguém vai acabar com meu dia. Só eu posso dizer que meu pau não é grande o suficiente. E também é frescura de mulher querer pau grande. O que importa é que não seja fino. É isso. Dane-se a anatomia...
Uh uh! (soquinhos no ar - olho na cx de e-mail. nenhuma resposta)
Será que ela recebeu a resposta? Ah, é isso. Ela não viu o e-mail e eu aqui pensando que ela não gosta do meu pau. Seu acéfalo. Ela vai responder, quando vir, que vc é o cara mais pauzudo do mundo. Um Conan, um Destruidor. Tá. nem tem como. Mas pera. Ela gozou.
Ah caralho! Ela gozou sim!
Tá, não foi com meu inho...
Pau pequeno da porra esse meu!
Vou sair daqui e estraçalhar a primeira boceta que vir na rua. Vou atravessá-la com meu potente instrumento, minha picareta. Quero ver alguém falar que sou desfavorecido de centimetragem pauzística. Quem é ela pra dizer que eu tenho o pau pequeno? Por acaso já trepou com um enorme? E daí? Nem gostava dela mesmo. Pra dizer a verdade achava até q ela trepava mal e cá entre nós, pagava um boquete muito do sem-graça.
Tá, eu pensava nesse boquete de vez em quando, mas era rapidinho. Vou mostrar pra ela quem tem pau pequeno!
Frígida!!!
Mulher frígida é uma merda. Sempre diz que tá com dor de cabeça e depois corre pra contar a amiga que meu pau é pequeno. Se foder!... Será q ela contou pra alguma amiga que meu pau é pequeno?
(MINUTOS DEPOIS ele recebe a resposta, super solidária e corretinha dizendo que imagina, o pau dele não é pequeno)
Porra, não vai dizer que é grande?????
Nunca vou entender as mulheres!"

* Segundo Zeca, a frígida em questão trepava bastante bem e, consta que pagava um boquete muito do bom.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

As lições de Clara

Esse tempo frio é uma desgraça pra cariocas amantes de sol, praia, Ipanema, chope gelado. Bom, como São Pedro deve ter chegado há pouco de uma excursão até Bariloche com a turma da terceira idade lá de Borborema, teremos mais dias chuvosos e cinzas. E quem conhece sabe, o balneário perde sua identidade nestas fases de french fries (fte fria na piada interna).

Ok. Pára tudo.
aqui falando de clima?
Oi?

Enfim, falando em outro clima, decidi escrever contos. E vou testá-los aqui.
Para deleite. Prazer. E, principalmente, pra me testar enquanto pretensa autora de seja lá o que vier...

"Ela passou o dia com os cabelos desgrenhados, a maquiagem ainda desbotada ao redor dos olhos. Era um domingo preguiçoso sem maiores expectativas. Uma rápida olhada no jornal. Se lembrou da noite anterior. Dos copos de vodka barata, dos tragos a mais. Do telefone trocado, que jamais irá tocar. Celular estudadamente desligado, decidiu que era hora de arrumar os armários. O seriado de TV, porém, foi mais ágil e a colocou inerte no sofá. Passava das três quando lembrou que já havia passado a hora do almoço. Abriu a geladeira, fez aquela rápida pesquisa de campo: um tomate, ovos, queijo meio vencido. Uma omelete era o máximo que conseguiria. Lembrou-se dos dias em que havia comida de gente em casa. Eduardo foi embora há alguns meses. Deixou Clara. Não, Clara os deixou. Deixou que o amor acabasse, que o dinheiro acabasse, que a comida acabasse. Clara tem uma enorme prática em fins nada lucrativos. De qualquer forma, se ergueu a sua maneira e se preparava para fazer uma omelete como nunca havia feito, por mais que Eduardo pedisse. Ela não sabia, ou não queria, fazer nada que Duda pedisse. Ele podia implorar, ir com jeito. Clara, em sua mediocridade neo-liberal não queria parecer subserviente. Agora pensava:
"Foda-se a subserviência. Quero mais é ser mulherzinha. Fritar ovo, lavar cueca, arrumar a cama, xingar se a toalha estiver na cama... Porra nenhuma, deve ser a ressaca", decretou.

Enquanto comia a omelete sem sal, copo de coca zero nas mãos, corria os olhos pela revista mulherzinha-ensina-me-a-ser-puta. Artigos mostravam como encarar posições sexuais do século 21, a se preparar para oferecer o melhor boquete da temporada e como amarrar o gato de uma vez por todas. Na hora engasgou. Não que fosso acometida de um falso puritanismo momentâneo. Clara não era dessas. Podia trepar na escada como fazer amor num motelzinho de nome duvidoso. Percebeu, no entanto, que não havia ninguém para praticar tais deveres de casa. Rapidamente se lembrou da última vez que sofreu o abate.

Tinha saído com o carinha da boate, um mês depois que Eduardo já não ocupava o lado direito da cama. Pela primeira vez levou um semi-desconhecido para casa. Estavam meio bebados. O cara não tinha camisinha. Clara também não. "Maldito Eduardo, onde ele guardava essa merda?". Achando que não deveria ligar pro ex-namorado pra saber em que diabos estavam os preservativos que raramente usavam, despachou o carinha pra farmácia. Ele foi. Sem saber o que fazer direito, Clara zanzava pelo quarto enrolada num edredom. Passou pelo espelho. Viu aquela figura medonha. Deixou o edredom no chão e aguardou a mercadoria.

Camisinha em cima, o clima voltou a rolar. Mas ela ainda não sabia o que fazer direito. Era estranho depois de um namoro de três anos estar com um cara novo. E oito anos mais novo. E a diferença, claro, fazia muita diferença, óbvio. O carinha era meio afoito, apressado. E pra piorar a situação não fazia aquilo. É! Aquilo... E Clara pensava em mandá-lo embora. Mas já que tinha o garotão no meio de suas pernas, decidiu-se pela caridade e tentou dar algumas liçoes ao moço para que ele a fizesse feliz momentaneamente e pudesse, quem sabe um dia, oferecer novos préstimos futuros. Com alguma dificuldade gozou. E o carinha também. Hora de mandá-lo pro vestiário e terminar o jogo. Os dois capotaram.

Clara acordou com a cabeça em frangalhos. Ao esticar os braços, sentiu um corpo. Não teve coragem de olhar para o lado. "Putaquiopariu!", pensou imediatamente. O corpo imóvel no lado da cama do Duda era do carinha sem talento para sexo oral. "Droga!", emitiu. Sem o menor talento para ocultar cadáveres, Clara se mexeu e tentou acordar o penetra. Nada. Levantou-se, foi até o banheiro, fez barulho no minúsculo apartamento. Nada. Decidiu dar uma de mãe malvada e partiu para o quarto: "Oi, olha só, preciso ir ao supermercado e vc tem que ir embora". Nenhum movimento. Clara puta da vida sacudiu o carinha bem na hora em que o celular dele começou a tocar. "Graças a Deus, agora ele vai". Era a mãe verdadeira querendo saber onde ele tinha passado a noite: "Oi, blz? Blz. Então tá, Blz". "Caralho, trepei com um acéfalo!".

Com algum custo e nenhuma sutileza, Clara enxotou o garoto prometendo a si mesma jamais tê-lo de volta no lugar que era do Duda na cama. Mas, naquele domingo frio, com a revista em mãos, pensou: "Pq não?". Na esperança do moço não atender o celular, ligou. Ele atendeu. "Oi, é a Clara.. anhã, to bem... frio ...quer vir aqui?". Pronto, a merda tava feita. Por encomenda. lembrou-se que no dia seguinte teria que trabalhar cedo para entregar um relatório. Era a desculpa perfeita para que ele se mandasse assim que resolvesse o problema dela. Para resguardar o lugar de Eduardo na cama, decidiu que não passariam do sofá. Acendeu uma velas, colocou o velho CD matador, caprichou na calcinha preta minúscula, vestidinho casual e aguardou sentada fazendo as contas de qto tempo não se permitia uma loucura.

A campainha tocou. Carinha com duas garrafas de vinho à porta. Dois beijinhos. Tudo muito civilizado. Conversaram sobre o Fluminense, o samba, a ex dele, o ex dela. Carinha pegou o pé dela e começou uma demorada massagem. Clara logo pensou que o moleque devia ter aprendido alguma coisa nesse meio período de reclusão. Os beijos vieram em seguida, e em seguida todo aquele repertório meio conhecido: boca-pescoço-amassos-peitos-pernas-pau-xoxota...

Ele não aprendeu. E Clara se arrependeu.
Mas decidiu falar dessa vez e levar td até o fim.
Estava disposta a gozar e iria fazer com que as moças da revista parecessem virgens prestes a se sacrificar. Puxou o garotão e mandou: "Olha só, vc tem que aprender a fazer isso direito. As mulheres vão ficar caídas por você e vão agradecer por isso, sempre". O olhar confuso do garoto deixou Clara constrangida por breves três segundos. Como uma adorável professorinha, Clara mostrou como ficaria bem melhor todo aquele malabarismo que o carinha fazia. Mas, para sua surpresa, ouviu: Sabe o que é? Eu não gosto muito de fazer".

Ducha fria urgente. Nele.
(Que diabos esse merdinha tá dizendo????)
"Não, claro, entendo sim. Quer mais vinho?"

Em meia hora, Clara se livrou da companhia e matou o resto da garrafa pensando que numa próxima vez teria mais sorte. Até lá, iria parar de ler revistas femininas que visam melhorar o orgasmo, apagar o telefone do frígido da agenda e comprar urgentemente um vibrador, que poderia até ocupar o lugar de Eduardo no lado direito da cama."