Esse tempo frio é uma desgraça pra cariocas amantes de sol, praia, Ipanema, chope gelado. Bom, como São Pedro deve ter chegado há pouco de uma excursão até Bariloche com a turma da terceira idade lá de Borborema, teremos mais dias chuvosos e cinzas. E quem conhece sabe, o balneário perde sua identidade nestas fases de french fries (fte fria na piada interna).
Ok. Pára tudo.
Tô aqui falando de clima?
Oi?
Enfim, falando em outro clima, decidi escrever contos. E vou testá-los aqui.
Para deleite. Prazer. E, principalmente, pra me testar enquanto pretensa autora de seja lá o que vier...
"Ela passou o dia com os cabelos desgrenhados, a maquiagem ainda desbotada ao redor dos olhos. Era um domingo preguiçoso sem maiores expectativas. Uma rápida olhada no jornal. Se lembrou da noite anterior. Dos copos de vodka barata, dos tragos a mais. Do telefone trocado, que jamais irá tocar. Celular estudadamente desligado, decidiu que era hora de arrumar os armários. O seriado de TV, porém, foi mais ágil e a colocou inerte no sofá. Passava das três quando lembrou que já havia passado a hora do almoço. Abriu a geladeira, fez aquela rápida pesquisa de campo: um tomate, ovos, queijo meio vencido. Uma omelete era o máximo que conseguiria. Lembrou-se dos dias em que havia comida de gente em casa. Eduardo foi embora há alguns meses. Deixou Clara. Não, Clara os deixou. Deixou que o amor acabasse, que o dinheiro acabasse, que a comida acabasse. Clara tem uma enorme prática em fins nada lucrativos. De qualquer forma, se ergueu a sua maneira e se preparava para fazer uma omelete como nunca havia feito, por mais que Eduardo pedisse. Ela não sabia, ou não queria, fazer nada que Duda pedisse. Ele podia implorar, ir com jeito. Clara, em sua mediocridade neo-liberal não queria parecer subserviente. Agora pensava:
"Foda-se a subserviência. Quero mais é ser mulherzinha. Fritar ovo, lavar cueca, arrumar a cama, xingar se a toalha estiver na cama... Porra nenhuma, deve ser a ressaca", decretou.
Enquanto comia a omelete sem sal, copo de coca zero nas mãos, corria os olhos pela revista mulherzinha-ensina-me-a-ser-puta. Artigos mostravam como encarar posições sexuais do século 21, a se preparar para oferecer o melhor boquete da temporada e como amarrar o gato de uma vez por todas. Na hora engasgou. Não que fosso acometida de um falso puritanismo momentâneo. Clara não era dessas. Podia trepar na escada como fazer amor num motelzinho de nome duvidoso. Percebeu, no entanto, que não havia ninguém para praticar tais deveres de casa. Rapidamente se lembrou da última vez que sofreu o abate.
Tinha saído com o carinha da boate, um mês depois que Eduardo já não ocupava o lado direito da cama. Pela primeira vez levou um semi-desconhecido para casa. Estavam meio bebados. O cara não tinha camisinha. Clara também não. "Maldito Eduardo, onde ele guardava essa merda?". Achando que não deveria ligar pro ex-namorado pra saber em que diabos estavam os preservativos que raramente usavam, despachou o carinha pra farmácia. Ele foi. Sem saber o que fazer direito, Clara zanzava pelo quarto enrolada num edredom. Passou pelo espelho. Viu aquela figura medonha. Deixou o edredom no chão e aguardou a mercadoria.
Camisinha em cima, o clima voltou a rolar. Mas ela ainda não sabia o que fazer direito. Era estranho depois de um namoro de três anos estar com um cara novo. E oito anos mais novo. E a diferença, claro, fazia muita diferença, óbvio. O carinha era meio afoito, apressado. E pra piorar a situação não fazia aquilo. É! Aquilo... E Clara pensava em mandá-lo embora. Mas já que tinha o garotão no meio de suas pernas, decidiu-se pela caridade e tentou dar algumas liçoes ao moço para que ele a fizesse feliz momentaneamente e pudesse, quem sabe um dia, oferecer novos préstimos futuros. Com alguma dificuldade gozou. E o carinha também. Hora de mandá-lo pro vestiário e terminar o jogo. Os dois capotaram.
Clara acordou com a cabeça em frangalhos. Ao esticar os braços, sentiu um corpo. Não teve coragem de olhar para o lado. "Putaquiopariu!", pensou imediatamente. O corpo imóvel no lado da cama do Duda era do carinha sem talento para sexo oral. "Droga!", emitiu. Sem o menor talento para ocultar cadáveres, Clara se mexeu e tentou acordar o penetra. Nada. Levantou-se, foi até o banheiro, fez barulho no minúsculo apartamento. Nada. Decidiu dar uma de mãe malvada e partiu para o quarto: "Oi, olha só, preciso ir ao supermercado e vc tem que ir embora". Nenhum movimento. Clara puta da vida sacudiu o carinha bem na hora em que o celular dele começou a tocar. "Graças a Deus, agora ele vai". Era a mãe verdadeira querendo saber onde ele tinha passado a noite: "Oi, blz? Blz. Então tá, Blz". "Caralho, trepei com um acéfalo!".
Com algum custo e nenhuma sutileza, Clara enxotou o garoto prometendo a si mesma jamais tê-lo de volta no lugar que era do Duda na cama. Mas, naquele domingo frio, com a revista em mãos, pensou: "Pq não?". Na esperança do moço não atender o celular, ligou. Ele atendeu. "Oi, é a Clara.. anhã, to bem... frio né...quer vir aqui?". Pronto, a merda tava feita. Por encomenda. lembrou-se que no dia seguinte teria que trabalhar cedo para entregar um relatório. Era a desculpa perfeita para que ele se mandasse assim que resolvesse o problema dela. Para resguardar o lugar de Eduardo na cama, decidiu que não passariam do sofá. Acendeu uma velas, colocou o velho CD matador, caprichou na calcinha preta minúscula, vestidinho casual e aguardou sentada fazendo as contas de qto tempo não se permitia uma loucura.
A campainha tocou. Carinha com duas garrafas de vinho à porta. Dois beijinhos. Tudo muito civilizado. Conversaram sobre o Fluminense, o samba, a ex dele, o ex dela. Carinha pegou o pé dela e começou uma demorada massagem. Clara logo pensou que o moleque devia ter aprendido alguma coisa nesse meio período de reclusão. Os beijos vieram em seguida, e em seguida todo aquele repertório meio conhecido: boca-pescoço-amassos-peitos-pernas-pau-xoxota...
Ele não aprendeu. E Clara se arrependeu.
Mas decidiu falar dessa vez e levar td até o fim.
Estava disposta a gozar e iria fazer com que as moças da revista parecessem virgens prestes a se sacrificar. Puxou o garotão e mandou: "Olha só, vc tem que aprender a fazer isso direito. As mulheres vão ficar caídas por você e vão agradecer por isso, sempre". O olhar confuso do garoto deixou Clara constrangida por breves três segundos. Como uma adorável professorinha, Clara mostrou como ficaria bem melhor todo aquele malabarismo que o carinha fazia. Mas, para sua surpresa, ouviu: Sabe o que é? Eu não gosto muito de fazer".
Ducha fria urgente. Nele.
(Que diabos esse merdinha tá dizendo????)
"Não, claro, entendo sim. Quer mais vinho?"
Em meia hora, Clara se livrou da companhia e matou o resto da garrafa pensando que numa próxima vez teria mais sorte. Até lá, iria parar de ler revistas femininas que visam melhorar o orgasmo, apagar o telefone do frígido da agenda e comprar urgentemente um vibrador, que poderia até ocupar o lugar de Eduardo no lado direito da cama."
11 comentários:
Ah, eu gostei mto. É cotidiano, comum mas mto subjetivo... mas ainda assim, tem traços com os quais é possível nos identificarmos facilmente. E tem ritmo, e pensamentos, e aquelas coisas sinceras que a gente só diz em pensamento.
Bjus
Obrigada anna oh!
Tudo para que adorável Alice seja best-seller rsrsrs
Nunca tinha lido este tipo de "conto" confesso que gostei bastante, você tem talento e muito futuro!
Parabéns!
Caraca! Vou descer escada.
Olha é pra comentar o conto né?!?!
Daqui a pouco vamos ter que proibir a subida ao lustre de pessoas menores de idade...:P
O conto está muito bem escrito, maravilhoso, como já disseram tem ritmo, sinceridade, identificações. Bom....essa última não pra mim, pois sei que tenho dez dedos e uma língua e só um....(bem vocês sabem o quê), ou seja, a mulher tem onze vezes mais direito ao prazer do que eu, é fato!!
Coitado do carinha, está perdendo uma das melhores coisas da vida....
Agora, não sei o que me agradou mais, se o conto, ao qual friso novamente que não me identifiquei, ou o clipe, que me lembra meus tempos de pré-adolescência, hehehehe.....
As lições de Clara...
Fantástico! Seja lá o que você pretende escrever ao longo dessa sua vida, acredite, vai se dar bem! Bem escrito, limpo, objetivo como deve ser... ou seja, tudo aquilo que se espera de um bom conto!
Ah sim, e quanto ao ocorrido no conto... bom... né... Clara devia dar umas voltas por aí... com alguém que conheço... enfim! As lições de Clara são lições pra vida!
Pobre Clara... Que naipe de carinha essa menina foi arrumar... Alguém dá uns tapas nele! A menina fica como?! Revoltei...
Mas sobre o conto, continue assim, está ótimo! É prosaico como deve ser. Tem uns aspectos pessoais, que buscam a identificação com o leitor... uma delicinha de conto! Tá lindo!
Bises pra você!
Diane: dear, vc sempre prestigiando. Tks.
Maurício: Ficou assustado pq???
Homem do cafezinho: Obrigada pelo incentivo e pode deixar que a propaganda aqui será mantida (:P). Ah, não acredito que os menores venham até aqui. Se vierem, que aprendam algo útil...
Nucífera: Baby, tks so much pelos coments literários. E manda o endereço de quem vc conhece para Clara. Ela vai amar, aposto rs
Tia do Café: Beijo pra vc tb. E continue vindo, pois vão pintar outros. bj.
Tá aprovada pra pretensa autora de seja lá o que vier... Mas o que vem??
Beijos,
Sacamano
PS. Se o cara não gostava de fazer, ele não gostava de fazer, ora!
Moça, me desculpe mais uma vez usar este espaço para outra coisa além de comentar seu texto, mas quando vi a crítica deste livro não pude resistir....
"O Lobo Mau no Divã" - O ursinho Pooh tem transtorno de atenção, Willy Wonka é esquizofrênico e o Lobo Mau é psicopata. Ese livro analisa os "problemas mentais" deses e de outros personagens com a ajuda de psicólogos. O resultado da análise? O mundo da fantasia é um manicômio, no qual só Alice é normal.....
Sensacional!! Eu também me arrisco a escrever crônicas, contos, whatever... Mas, eles ficam guardados... Bem guardados... Hahahaha
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