sexta-feira, 2 de maio de 2008

Reflexões sobre a sedução

Ouça enquanto lê


Ai que gente chata essa que sente necessidade de seduzir poste. Um sorriso infalível, um olhar meio míope, a voz um tom abaixo e lá se vão saindo pela boca as mesmas palavras que já foram ditas pra pelo menos meia dúzia de carentes na estrada. Depois, uma piadinha cheia de fair play, uma frase nonsense, o ar blasé e voilá temos ali mais um sedutor contumaz. Chaaaaaaaato!
Um amigo me disse uma vez:
_ Vc deveria baixar o tom de voz de vez em quando para parecer mais doce e vulnerável...

Hum. Pausa.

Tentei, juro. Mas me igualei a esses seres que lêem auto-ajuda procurando homens e mulheres em planetas eqüidistantes. Ñão sempre nos dizem que devemos ser nós mesmos???

Conheci uma moça _ não tão moça assim, a bem da verdade _ que era o tipo performática. Já tinha se casado algumas vezes e em todas elas se vestia, andava e se comportava tal qual e para seu par. Em sua macrovisão de relacionamento, achava que para manter a sedução tinha que fazer uma espécie de osmose com o outro. Me parece patético. E é. Nunca tinha ouvido falar em Chico, e de repente teve que aprender tudo sobre o cara. E contava nas mesas de bar o quanto essa e aquela obra eram importantes. Livros nunca foram seu forte. Até escrevia bem errado, tadinha. Mas, de repente, passou a curtir literatura de cordel só pq o par achava que traduzia o inquestionável valor do cancioneiro popular. Maaaaaaaaaaalaaaaa!
No fundo, aquela relação Google não iria muito adiante.
Mas para os sedutores contumazes, uma relação não acaba. Uma espécime dessa raça gosta de manter laços. De amizade, preferencialmente.
Para parecerem modernos, altruístas, condescendentes e uma pessoa de bem diante do outro que, no fundo, deveria estar querendo vê-lo pensdurado a um pau de arara. Só pra variar...
O pior é que o sedutor contumaz, conscientemente, tenta de qualquer modo fazer parte da vida nova do outro que não o quer mais. Mesmo que tenha sido ele a cair fora, ele volta de tempos em tempos só para ver o efeito arrasa quarteirão que provoca na pobre vítima.
Uma outra mocinha não podia ver seus ex felizes. Dava sempre um jeito de manter a amizade, se fazer de querida pra concorrente em potencial só para contar a ela segredos de alcova da ex-presa. E assim, desestabilizava a coitada e mantinha o seduzido sobre suas rédeas, fazendo-o lembrar-se, vez o outra, de como ele era uma muher incrível. Vaaaaaaaca!
Não baixei mais o tom. Não sei como fazê-lo. Quando faço isso, minha voz fica rouca tal qual uma bruxa. Também não consegui fazer a linha desprotegida. Com esse tamanho, dificilmente acreditariam que sou indefesa. Não sei ser a mulherzinha, andar do lado de dentro da calçada, não responder a uma provocação com uma maior ainda... Buraaaaaaaaaa!
De acordo com as práticas tupiniquins de sedução sou o que miseravelmente é chamado de caso perdido...

Nenhum comentário: