(pq eu amo Claire de Lune, música da minha vida e morte
Ouça enquanto lê. É imperdível)
"Jamais, Deus sabe, procurei em ti outra coisa senão a ti. Não eram as ligações matrimoniais que eu procurava e não eram os meus desejos, nem meus prazeres, mas os teus, tu bem o sabes, que eu procurava satisfazer. Sem dúvida, o nome de Esposa parece mais sagrado e mais digno, mas eu teria preferido o de amante, ou se me permites dizer o de concumbina ou mesmo prostituta. Qtas vezes pensei que serias mais caro para mim e tb mais digno para mim ser tua meretriz do que a imperatriz de Augusto".
Esse é um trecho de uma carta de Heloísa a Abelardo. Um romance bem anterior ao lacrimoso e irracional Romeu e Julieta. Numa época em que a razão deveria prevalecer ante as razões que levam alguém a apaixonar-se. Numa época em que a entrega ao outro era questionada e o platônico deveria ser seguido como verdade absoluta. Na impossibilidade da relação anímica a que estavam destinados, Abelardo e Heloísa trocavam cartas de amor e ódio. E em seu legado é possível descobrir os caminhos que percorremos até aqui na confusão diária do que pretensamente chamamos de paixão.
"Abelardo tinha tudo para conquistar o coração de muitas mulheres. Daí a pergunta: seria Abelardo um homem de vida livre, seja com prostitutas ou com outras mulheres? Sinto muito ao dizer que o que causará a ruína de Abelardo é o amor por todas as mulheres. Ora não se pode dizer aqui que ele amará a todas, mas posso dizer que não amará a nenhuma.... Abelardo mesmo se acusa de inúmeras torpezas, de devasso. Abelardo não mente? Estaria ele mentindo desde o início? Seria ele realmente o monstro que todos apontavam? Ele mesmo teceu o caminho usado para me seduzir, caminho tortuoso, sem dúvida, não sei com objetividade apenas ou se também com certa dose de cinismo.Sem beleza de qualquer espécie. Caminho em que aparece clara a figura de um homem duro e frio. Caminho de uma sedução que não tem sequer amor por excusa"
Trecho de carta de Heloísa sobre Abelardo
Conheço um Abelardo. Não, vários. E como boa Heloisa que sou, me deparo com a confusão que é manter a razão onde ela não deve existir. Quantos Abelardos são necessários para nos fazer morrer? Ou viver intensamente cada segundo de dúvidas e incertezas? Quantas Heloisas serão postas à prova para decidir em que porta entrar?
"Fujo para longe de ti,evitando-te como a um inimigo, mas incessantemente te procuro em meu pensamento.Trago tua imagem em minha memória e assim me traio e contradigo, eu te odeio, eu te amo".
De Abelardo para Heloisa
E de pensar que mais de dois mil anos se passaram e ainda tanto desencontro entre Abelardos e Heloisas...
No momento, vivo a mais pura relação Henry - June - Anaïs Nin sem o menage sexual.
Ele precisa da primeira, com quem vive uma relação intelectual, de aspirante a escritor. A terceira apresenta a ele um universo controverso e surpreendente. June sabe que precisa de Anaïs para manter sua relação com Henry e Anaïs não faz outra coisa a não ser se entregar a este enredo, por vezes até bem sórdido. O que a leva a este relacionamento aberto? Já pensei em várias respostas. Hoje, a principal delas é de que Anaïs, de alguma forma, precisa viver o conflito para saber-se viva e inspirar-se. Provavelmente, nunca esteve tão estimulada intelectualmente...
"Quero estar onde quer que você esteja. Deitada ao seu lado mesmo se você estiver dormindo. Henry, beije meus cílios, ponha seus dedos sobre minhas pálpebras. Morda minha orelha. Empurre meu cabelo para trás. Aprendi a desabotoar a sua roupa com rapidez. Tudo, em minha boca, chupando. Seus dedos. O calor. O frenesi. Nossos gritos de satisfação. Um para cada impacto do seu corpo contra o meu. Cada golpe, uma pontada de prazer. Perfurando numa espiral. O âmago tocado. O útero suga, para a frente e para trás, aberto, fechado. Os lábios adejando, línguas de cobra adejando. Ah, a ruptura - uma célula de sangue explodida de prazer. Dissolução." Anaïs Nin
Trôpego e excitante...
Um comentário:
Posso ser eu seu Abelardo?
Ou Henry?
Ou June?
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