terça-feira, 1 de julho de 2008

O passado me liberta

Eu hoje joguei tanta coisa fora
Eu vi o meu passado passar por mim
Cartas e fotografias, gente que foi embora
A casa fica bem melhor assim (...)

Dia de faxinar a vida. Limpar a memória. Rever o passado e álbuns e livros e promessas de amor descumpridas. Compriiiiiiiiidas. Tarde vazia alheia ao futuro. Só o passado não me condena e me ronda e me liberta para ser feliz outra vez. Mentira. Já sou feliz assim. Nesse meu tempo meio doido, doído e corrompido pelo que podia ter sido e jamais será. Numa caixa encontrei uma outra eu. Tão obsoleta quanto àquele gravador, uma fita k7, a máquina fotográfica que usava filme, o celular pesadão, um relógio fora de moda. Tudo ficou para trás. Assim como os planos e sonhos e o amor. E os quilos a menos. Era tão jovem e tão bonita e tão loura. Sou mais interessante hoje, no entanto. E percebo como meus cabelos estão melhores, ainda que insistam em embranquecer bem aqui nessa parte, e que o sol não sacaneou de todo a minha pele, que continua macia. Hoje posso comprar mais cremes e já acredito neles. Antes os deixava na penteadeira para enfeitar. Mas o tal do filtro solar ainda não é meu melhor amigo. Continuo errando, pelo visto. E tropeço ao beber além da conta e de além da conta pegar o celular para mandar mensagens truncadas e trincadas madrugada afora. Uma boa constatação é que na gaveta não ficou minha disposição para me atirar. Ainda que o faça com mais parcimônia, sejamos bem sinceros. Mas a paixão sempre existiu e não quero desacreditar nela, desconfiar de que não seja boa. Teve época em que me apaixonava três vezes ao dia. Por homens e sapatos diferentes. Quando estou triste compro sapatos. Afinal, comprar homem dá mais trabalho... Continuo fazendo isso desde a adolescência. Freud diria que é carência paterna. Sei lá. Pode ser. Mas comprar sapatos é altamente reconfortante. Devo ter um quê de Doroty, uma apaixonada confessa por pares vermelhos e mágicos. Ou Imelda, vai saber. Hoje dei sapatos. E roupas. Que não me serviam, que não serviam pra nada. Só ocupando espaço e lembrança. Vai levar pra alguém uma nova esperança e mais uma lembrança que não mais me pertence. Achei coisas perdidas que nem sei se queria. Outras me fizeram surpreendentemente alegre. Poucas me fizeram chorar e em muitas não reconheci aquela garota. A fase é positiva para reciclar, transformar. Pegar o que tem de bom e aprimorar. E operando o milagre do desapego também decidi colocar no lixo as regras impostas, as vontades sufocadas e o não parecer. É preciso remexer no interior pra ver que não se pode ter o novo cultivando o que ainda é antigo e deveria ter ficado dentro de um livro tal qual flor desidratada. Que venha o que tiver de vir. Que aconteça o que tiver de acontecer. Que se realizem ou não os desejos mais secretos.
Um dia após o outro.
De minuto a minuto.
Respirando e suspirando a cada segundo.
Sem entraves, sem barreira,
Sem se.
Sem será.
Sem talvez.

33 comentários:

O Equilibrador de Pratos disse...

Freud diria que os sapatos são culpa da mãe. E Schopenhauer do sexo. Enfim, só comentei aqui pq achei bonitinho. Aliás, adorei os comentários no meu blog. E este teu jeitinho ácido.
B. Sacamano

Alice ainda mora aqui disse...

O faça sempre que quiser. Aqui não se toma estomazil.

PS: Vai ver mestre Shopenhauer tá certo.Vai saber...

O Equilibrador de Pratos disse...

Eu não tenho tempo pro mestre Shopenhauer, ainda estou tentando me tornar quem eu sou... maldito Nietzsche!

Alice ainda mora aqui disse...

Po, pra mim Nietzsche pode chorar à vontade.

O Equilibrador de Pratos disse...

Não faz assim. Ele é o meu filósofo supervalorizado preferido. E ainda nos diverte a todos... todos! Mais ou menos como um Boris Yeltsin nos bons tempos.

Alice ainda mora aqui disse...

Desculpe ferir sua "sensibilidade intelecual", mas o acho (o filosófo, que conste da ata) tão chato quanto MC Créu. E olha que nem ouço funk. Fechamos com Buko, ok???

O Equilibrador de Pratos disse...

É justo, eu só tava fingindo ser intelectual mesmo. De qualquer forma, todo mundo gosta do Buko. Ou não, mas é melhor assim, fica mais fácil fingir ter uma sensibilidade intelectual.

Alice ainda mora aqui disse...

Todo mundo gosta de Buko??? Ah não, ele não atingiu os grandes conglomerados de gte que troca citações com fofices clicáveis nos orkuts da vida e chama os amigos de miguxos.

Ainda bem!

O Equilibrador de Pratos disse...

Ah, o orkut... Um dia eu ainda escrevo sobre ele... mas enfim, todo mundo que vale a pena gosta dele. Os outros, bem estes são os que se divertem com os miguxos e são felizes. Ou acham que são, o que acaba dando na mesma. Mas ainda prefiro o Buko e minhas crises existenciais.

Alice ainda mora aqui disse...

Crise existencial on the rocks é o que há, miguxo!

O Equilibrador de Pratos disse...

Cawboy pra mim. E sem o guarda-chuvinha, claro.

Alice ainda mora aqui disse...

Guarda-chuvinha me lembra um ótimo filme que vi. Eqto a pseudo tomava os drinques colecionava os tais acessórios-que-servem-pra-quê-mesmo? colocando-os no cabelo. Ficou parecida com uma alegoria e foi pra cama com o garçom. Neste caso, vamocombiná, que teve um happy end à altura...

O Equilibrador de Pratos disse...

Agora me deprimi, eu nunca tive um happy end com uma garçonete.

Alice ainda mora aqui disse...

Experimenta o guarda-chuvinha entonces.

O Equilibrador de Pratos disse...

Se eu me pendurar um guarda-chuvas de verdade eu consigo acabar na cama com a gerente?

Alice ainda mora aqui disse...

Pára e pensa: gerentes são estressadas, acostumam-se a ouvir reclamações de todo o tipo. Na melhor das hipóteses, a garçonete vai te dar um bom trato e só pedir 10%.

O Equilibrador de Pratos disse...

Gerentes são mais auto-suficientes, vão me dizer o que fazer e como. É entediante pra um sábado, mas perfeito pra uma terça. E ainda vão ter que me dar razão quando eu reclamar.

Alice ainda mora aqui disse...

Depende, se vc estiver no bar poderá reclamar. Se or um motelzinho barato qq, ela poderá reclamar. Se for na alcova dela, ela o mandará embora rapidamente, principalmente se mandar vc fazer coisas que vc está inapto a fazer. É bom se cercar de argumentos sólidos. Sem trocadilho...

O Equilibrador de Pratos disse...

Minhas inaptidões estão tão claras assim? Droga, antigamente eu costumava disfarçar melhor, quando as meninas descobriam já era tarde demais.

Alice ainda mora aqui disse...

Rebobinando: se um cara precisa se pendurar num guarda-chuva pra pegar a gerente fica meio evidente o quão inapto em outras abordagens ou questões, wahever, ele é.

PS: Talvez Alice não seja mais tão menina, embora contineu atrás do gato...

Alice ainda mora aqui disse...

e era pra sair whatever. Whatever

O Equilibrador de Pratos disse...

Não que eu precise, mas eu to ficando um pouco cansado do "vc vem sempre aqui?". Eu tento trazer novas cores pro mundo e é este tipo de acusações infundadas que recebo em troca?

PS. Menina é modo de falar. Mas anyway, ja tentou usar uma tigela de leite?

Alice ainda mora aqui disse...

Eu tenho nojinho de leite (ahahaha, isso foi tão provocativo). Next...

* Para aumentar seu repertório: parece que te conheço de algum lugar.

O Equilibrador de Pratos disse...

Eu vou me abster de fazer comentários que eu me arrependa no dia seguinte.

Mas "te conheço de algum lugar" é brilhante!!! Vou começar a usar!

Alice ainda mora aqui disse...

po se abster de fazer comentários não vale.

Eu autorizo vc a usar essa máxima do cancioneiro popular ou do latin lover desesperado.


Me achou mesmo esquizofrênica?

O Equilibrador de Pratos disse...

Achei, mas no bom sentido.
Em todo o caso, é bom descer do lustre.

Alice ainda mora aqui disse...

Não dá, fico ali em cima pra ver se encontro o gato.

O Equilibrador de Pratos disse...

Já tentou usar uma tigela de leite?
Estranho, acabei de ter um deja-vu...

Alice ainda mora aqui disse...

Daqui de cima não dá pra equilibrar uma tigela de leite sem tocar nela. E de equilibrar pratinhos entende vós.

O Equilibrador de Pratos disse...

Mas são pratinhos, não tigelas... e isso muda muita coisa!

Alice ainda mora aqui disse...

mas neste caso a ordem dos uensílios não altera o produto (qa divagação, g-zuis) Decidi deixar seu post de casamento, oops, coisas que valem a pena com 15 coments. Não vou escrever lá. Achei 15 um numero bonitinho.

O Equilibrador de Pratos disse...

Tá fugindo do post do casamento, né???
Olha só, eu escrevi isto no outro post:
Ou eu posso ser o Jurandir. Ou nós dois! Ou vivemos em um mundo de Jurandires.
Tá, chega. Eu vou dormir. Boa noite, dorme com os anjinhos. Ou os garçons. Ou o Jurandir. Como preferir. Espero que tu me comente amanhã, como uma gentleman faria.
Beijo

Então boa noite de novo. Tchau. Volte sempre. Sua ligação é muito importante pra nós.

Alice ainda mora aqui disse...

Estamos trabalhando para melhor servi-los.